Novamente ele entrou no mosteiro que sempre que passava em frente não deixava de entrar, sentia imenso prazer em contemplar a imagem de Cristo à direita do altar e rezar um pai nosso.
O frescor e silêncio do ambiente contrastavam com o calor e o barulho da rua e o cheiro de vela queimada e das flores completavam o clima de paz.
A construção do mosteiro começou em 1910 e terminou em 1922 e abriga os monges beneditinos que seguem o lema: orar, trabalhar e ler, e realizam o oficio divino em rito monástico e a missa em rito romano, ambos com canto gregoriano.
Normalmente ele ficava no fundo do mosteiro e as vezes sentava no último banco, mas agora estava com vontade de explorar o ambiente observando os ladrilhos hidráulicos de linda decoração, e foi caminhando em direção ao altar parando em cada imagem que via ou em detalhes da arquitetura.
Uma pesada porta estava ligeiramente aberta, e a curiosidade lhe perguntava se não seria ali que iria para o subsolo do mosteiro, lugar que raríssimas pessoas têm acesso, e a tentação fê-lo abrir a porta o suficiente para passar e entrou, se alguém aparecesse naquela hora ele diria que estava procurando um monge para pedir alguma orientação e acabou se perdendo.
Uma escada pouco iluminada descia em caracol, e andando nas pontas dos pés foi explorando o local até chegar numa sala onde um monge com uma pá na mão colocava um pequeno baú num buraco onde faltava a laje do piso. Então ele ficou observando a cena imaginando o que o monge estaria enterrando, seria um tesouro?.
Terminado o trabalho o monge com dificuldade colocou a pesada laje no lugar e pisou em cima acertando algum pequeno desnível Nesse momento o monge percebeu que estava sendo observado e olhou para o homem e sorriu, e este ficou calado não sabendo o que falar, mas o monge quebrou o gelo e disse que estava enterrando um grande tesouro, e já que ele tinha visto foi lhe explicando que aquele baú continha cartas de um grande amor do passado. Explicou quer tinha nascido de um parto difícil e por pouco não morreu, e sua mãe como muitas outras mães fazem, fez uma promessa que o filho seria um monge para servir à Deus, mas na adolescência conheceu um grande amor, e como o destino não permitiu casarem-se, ela casou com outro e pouco tempo depois morreu num acidente de carro.
Então ele estava ali enterrando as cartas de amor, porque sabia que um dia seria enterrado no mosteiro, e tinha esperanças de numa outra vida encontrar a amada, e se lhe fosse dado o esquecimento desta vida passada, teria ali um mapa para poder procurar seu amor eterno.
O homem ouviu calado e disse que a vida é assim mesmo, devemos ter fé nos desígnios de Deus e que ele mesmo toda vez que rezava o pai nosso em frente a imagem de Cristo, Lhe pedia que não Lhe desse o que ele queria, e sempre Lhe desse o que fosse melhor para ele.
Sorrindo despediram-se e cada um continuou seu caminho.