sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Conhecendo a futura sogra

Ela disse que agora era oficial, estavam namorando. E um detalhe, ele é japonês. Quando ele a convidou para jantar em sua casa para conhecer sua mãe, a apreensão foi grande.
Mãe japonesa, cultura diferente da sua, realmente ela teria que se esforçar em conquista-la. Teria que remar contra o folclore que diz que sogra é víbora venenosa e nora é uma ladra de filhos que não sabe fazer nada certo.
Se preparou, caprichou no cabelo, no batom e nas roupas, que não poderiam ser muito radicais e nem parecer muito senhora, imagina que sogra queria seu filho namorando com uma velha?
Lembrou que seu pai contava uma estória de um amigo seu que tinha levado a namorada em casa para conhecer os pais, e ela adepta de teatro amador, muito moderna e muito simples, quando reparou que o sogro deixava muita carne na coxa do frango que comia, não teve duvida, pegou o osso de frango do sogro e começou a roer. O sogro com poucos dentes ficou chocado, e o que era para conquistar pela simpatia causou espanto pela falta de higiene e nojo de todos na mesa.
Lembrou também da propaganda da televisão que a moça leva seu namorado para conhecer seu pai, e ao deixá-los sozinhos na sala, cria um clima de tensão imenso, que para surpresa de todos, o gelo é quebrado pelo sogro oferecendo um tic tac para o futuro genro.
Mas ela não gostava de tic tac e teria de enfrentar a situação com suas próprias armas, mas enfim tudo transcorreu normal e comeram comida japonesa, sendo que no fim o rapaz se levantou e foi lavar a louça.
No dia seguinte seu pai perguntou como tinha sido conhecer a futura sogra, e ela disse que foi tranquilo, a mãe dele é muito alegre e gosta de conversar, só observou que eu precisava aprender usar o hashi sem o adaptador.
Seu pai lhe disse  que ela tinha muita sorte, a futura sogra queria ver ela comendo bem, mas imagina se ela falasse que a namorada tinha que aprender a lavar a louça?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Oxente!

O cabra estava com a barriga encostada no portão, e esperava o papel da água e o papel da luz que um corno estava trazendo, e vejam bem, ele não era pirangueiro não, mas também não dava ponto sem nó, e olhava para acolá enquanto a cachorra Traíra botava sentido à seu lado.
Não pagava o papel da água e o papel da luz atrasados, para os amigos que ficam curiando na fila do banco não mangarem dele, e tem mais, ele não queria arengar com ninguém.
Ele já não botava gosto no compadre Toinho ficar com a bengala e o cigarro de palha arremedando ele, e qualquer dia ia abrir a taramela do portão para ele levar uma escorraçada da Traíra.
Antes ele tinha varrido a casa e quando pediu para a filha pegar o catador de cisco, ela se fez de moca, não queria ouvir, estava com o gigolé na cabeça fazendo o decote para ir na praia e disse que se não fosse assim ia ficar no caritó, mas pelo menos, não era nem biscaia nem bolacheira.
Só pedia para o Padim Ciço que antes que fosse para a cidade de pés juntos queria  ver a filha cheia de barrigudinhos e embuchada de mais um. Então estava pronto para se encontrar com a finada e.......morreu Maria Preá!

Dicionário do Nordeste

Oxente:   do holandês Oh Shit (que merda, porra)
cabra:   homem
papel da água:   conta da água
papel da luz:   conta da luz
corno:   homem traído pela companheira
pirangueiro:   avarento
acolá:   ali
Traíra:   segundo Luiz Gonzaga, nomes de peixes como Traíra e Baleia etc. são nomes de cachorros de pobres. Já os nomes de cachorros de ricos são: Rex, Whisky etc.
botava sentido:   estaca atenta
curiando:   xeretando
mangarem:   debocharem
arengar:   encrencar
arremedando:   imitando
taramela:   trava, fecho
escorraçada:   expulsada
catador de cisco:   pá de lixo
moca:   surda
gigolé:   tiara
fazendo o decote:   depilando as virilhas para usar biquíni cavado
ficar no caritó:   solteira
biscaia:   mulher imoral, libertina
bolacheira:   lésbica, sapatão
cidade de pés juntos:   cemitério
barrigudinhos:   filhos
embuchada:   grávida
morreu Maria Preá:   fim (conta-se que o padre de um povoado tinha um caso com uma beata chamada Maria Preá, e o sacristão descobriu e ficava fazendo chantagem com o padre. Um dia o padre ia rezar uma missa em um outro povoado e quando percebeu que tinha esquecido algo, voltou à igreja e encontrou o sacristão de quatro no chão com um outro rapaz em cima, então o padre foi categórico, apontou o dedo para o sacristão e disse: -morreu Maria Preá!