quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Vida de Estrela

Estava em um lugar escuro e úmido,  na verdade bem abafado, quando uma retroescavadeira me levantou,  senti o vento soprando e o sol brilhando em meu corpo,  foi uma experiencia marcante,  é como se fosse um parto igual ao dos humanos.
Fui colocada em um caminhão basculhante que me levou para uma industria,  onde fiquei descansando por um tempo;  depois fui lavada varias vezes e colocada em uma maquina de altíssima temperatura,  que me transformou em estado liquido,  e numa especie de forma fui moldada,  eu que sempre fui amorfa,  agora tinha uma forma,  não sabia exatamente do que,  mas agora tinha uma forma.   Me sentia oca,  vazia,  até que em determinado momento me encheram de um liquido gelado,  foi uma sensação boa,  agora me sentia útil,  feliz,  completa,  aquela sensação de vazio sumiu.
Me colocaram em uma geladeira,  foi um susto! , agora no vidro da geladeira via minha imagem refletida.....uma garrafa de Coca-Cola!.
Eu que era um monte de areia amorfa,  agora era uma garrafa  de Coca-Cola,  acinturada,  nova,  famosa,  e com a inscrição em alto relevo.   Logo alguém me pegou,  abriu minha tampa e colocou o liquido num copo,  em seguida estava novamente vazia e solitária em um engradado plastico.
Dai começou minha maratona,  voltei para a fabrica,  fui lavada e enchida novamente,  e ficava na expectativa,  por que mãos iria passar? quem iria me usar?
Conheci pobres e ricos,  conheci pessoas de bem e bandidos,  ia em festas e as vezes terminava caída em um canto do salão,  as vezes ficava horas nas mãos de uma criança,  as vezes ficava nas mãos de uma prostituta.
Fui vivendo assim,  desejada,  idolatrada,  famosa mundialmente,  até que um dia ouvi alguém dizendo:- vou precisar desta garrafa!.  Fiquei muito feliz,  era bom ouvir alguém dizer que precisava de mim,  e eu estava vazia! , qual seria meu destino?
Fui lavada e enchida de pimenta malagueta e óleo,  e fiquei curtindo meu recheio por uns dias,  depois fui colocada sobre um balcão.  Agora eu não ia mais para a fabrica,  só ficava na lanchonete,  e para não dizer que ficava parada,  ia de mesa em mesa,  toda hora.
Me olhavam com desejo,  ainda era desejada,  colocavam meu óleo no pastel,  na coxinha e na esfiha.
Assim vivi por uns tempos,  até que fui substituída por outra garrafa, e,  não acreditava,  fui para o lixo.  Do lixo fui depositada num aterro sanitário,  poderia ter sido reciclada,  mas me colocaram num aterro junto com material de decomposição rápida,  assim em poucos anos,  la estava eu enterrada na terra,  perdida na profundeza da terra.  Lembrei de um bêbado no bar: veio da terra,  para a terra voltaras,  eu,  uma estrela famosa mundialmente agora perdida na terra.  Mas lembrei das palavras de um velho,  também do bar: a esperança é a ultima que morre.  E quem sabe daqui a centenas de anos,  não serei encontrada e intacta serei colocada em uma vitrine de museu?,  imaginem a inscrição explicativa que poderiam colocar: "Recipiente de refrigerante consumido mundialmente na virada do século vinte, o recipiente é de puro vidro e o refrigerante que nasceu de um xarope farmacêutico também servia para desentupir pias

Nenhum comentário:

Postar um comentário