quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

O tempo, compositor de destinos

Há cinquenta anos eu ia para o Grupo Escolar Eduardo Prado, com uma mala de couro contendo cadernos, um estojo de madeira e o lanche para o recreio. Lembro do cheiro da mala até hoje.
No caminho, uma judia amiga de minha mãe, que também levava os filhos na escola, comentava a ultima novidade: as malas dos seus filhos tinham alças para prender nas costas (como as mochilas de hoje), o que evitava problemas de postura. Falava também que seus filhos tinham a coleção completa do Monteiro Lobato, que já tinham lido, e que para estudo utilizavam uma enciclopédia, a "Barsa", só rico possuía.
O tempo passou, e nestes dias no supermercado um cliente abandonou no estacionamento uma sacola com a coleção completa da Barsa, com certeza não doou a uma biblioteca porque achou que não valia a pena, e não jogou no caminhão do lixo, porque talvez tenha a minha idade e sabe o valor que esta coleção já teve. O tempo é um vilão! o que foi uma riqueza, a internet transformou em descarte.
Meu tio de 99 anos com sua bagagem de vida, um dia disse que o tempo "cura" tudo, ou seja, nos faz aceitar e se conformar, e Caetano Veloso em sua musica "Oração ao Tempo", onde repete a palavra "tempo" oitenta vezes, diz que o tempo é o "compositor de destinos" e "tambor de todos os ritmos".
O tempo é um vilão, mas quando lembro que graças a este vilão é que existe a evolução tecnológica, e quando lembro que nossos antepassados até bem recentes não podiam tratar os dentes quando se estragavam ou quebravam, e não dispunham de óculos para corrigir a visão, penso: que se dane a Barsa e viva a internet.

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