sábado, 24 de julho de 2021

Cada qual com seus medos

 Ele era chefe da segurança em uma loja e enfrentava constantemente situações que exigia jogo de cintura,  as vezes o infrator era fisicamente bem maior que ele e também mal encarado.

Falava abertamente que não tinha medo de nada, aliás apenas uma coisa bambeava suas pernas: gente morta. Chegou a perguntar para um médico se isso era uma doença, e o médico explicou-lhe que não era não, era uma fobia, chamava-se "necrofobia".

Amigos tinha muitos, até arrumar uma namorada, então a coisa mudou, deixou os amigos de lado, mas um amigo seu sempre falava para a esposa que estava com ele quando saia nas baladas, ele negava para quem quisesse ouvir, até que um dia a esposa deste amigo entrou em sua casa acusando-o que mentia, que falava que não saia com seu marido e agora ela comprovou que era verdade, seu marido estava dormindo ali no quarto ao lado.

Ele negando foi conferir e confirmou que realmente o seu amigo roncava na cama, e tinha entrado em sua casa com a permissão de sua mãe.  A esposa do amigo saiu dizendo que iria pegar no seu pé o resto de sua vida por causa das mentiras.

Foi por pouco tempo, infelizmente a esposa do amigo foi acometida de uma doença grave e apesar da radioterapia, quimioterapia e todos os remédios, morreu muito jovem.

Era obrigação sua ir ao enterro, mesmo tendo medo de morto, e foi cumprir seu papel, e quando rezava um pai nosso olhando para a defunta, a defunta abriu os olhos e o encarou.

Ele gelou e foi saindo de marcha-a-ré com os pelos do corpo todos eriçados, e saindo do necrotério foi na cantina e tomou quatro conhaques puros para amenizar o medo.

Novamente perguntou para o médico se a mulher poderia estar viva, e o médico explicou que aquilo era resultado de muitos remédios no corpo causando ainda reações involuntárias.

O tempo passou e ele nunca esqueceu isso, até que um dia a empresa onde trabalhava resolveu mudar o uniforme da segurança e lhe deram um par de sapatos novos, até ai tudo bem, mas depois lhe chamaram para trocar o seu par, afinal ele era encarregado e tinha direito a um modelo especial com cadarços.

Ficou feliz!, mas um pensamento começou a lhe atormentar: seria a morta dando um sinal que sempre iria pegar nos seus pés?

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