sábado, 24 de julho de 2021

Sonhos

Houve uma época que eu sonhava em ter um skate, já era rapaz, e me imaginava andando de skate, e quando tive a oportunidade de ter um emprestado, subi em cima e numa tarde fria de junho deitei no chão e nunca mais tive esse desejo.

Também sonhei em ter uma vespa, e quando me preparava para comprar uma, meu colega de trabalho que conhecia motos e carros, falou que era besteira comprar uma, porque vespa a gente senta em cima e era muito melhor uma moto, muito mais seguro, porque na moto a gente monta e se prende com as pernas, dando muito mais segurança.

Hoje ainda penso na vespa, e não compro porque sei que as rodas são muito pequenas e consequentemente se sente muito mais os buracos na rua se compararmos com uma moto.

Também sonhei muito com um motorhome ou até um trailer, mas o custo é muito alto para um veículo que não tem grandes reservatórios de água, e se carregarmos uma caixa de 1000 litros, pesará 1000 quilos a  mais, o que é muito difícil, fora o risco que se corre com a segurança pessoal no local onde se estaciona.

Mas uma coisa eu sei:  um dia comprarei um Tuk Tuk, e imagino como deve ser bom andar num veículo tão estranho, mas muito barato, econômico, com espírito de aventura, infantil e cheio de fantasias.

Não pensem que me sinto frustrado em só sonhar e não realizar as ideias, pelo contrário, me sinto realizado em viver sonhando e vivenciando minhas ideias, acredito que muita gente que tem tudo não curte como eu curto, não vive como eu vivo.

Já vi pessoas que compraram um carro novo e disseram que não estão nem ai, não sentem nada! E digo que feliz sou eu que quando compro um carro novo fico perdendo o sono e vivenciando a alegria da novidade!

Mas lembrando, a meta para o futuro é o Tuk Tuk, e como é bom ter um sonho!, esperar, vivenciar, e quem não pensa assim que continue ouvindo o seu funk e me deixe ouvindo os pássaros!

Mistérios

 O gato misterioso

A mulher entra no supermercado com o gato no colo, ela sabe que não pode entrar no supermercado com animais, mas a tentação é grande, e naquele momento cai um objeto no chão que assusta o gato quer sai em disparada e atravessa a rua entrando num depósito do supermercado.

Não se achou mais o gato que se escondeu no meio de muitos materiais de manutenção.

A mulher vai embora e pede para o segurança que quando achar o gato prenda-o para ela, e o tempo passa sem o gato aparecer, até que na semana seguinte o segurança encontra o gato morto, provavelmente comeu algum rato morto com veneno.

O segurança resolve ficar quieto para poupar o sofrimento da mulher, sendo que a expectativa de encontrar o gato dava esperança para a mulher, mas o engraçado é que a mulher apareceu dizendo que o gato tinha voltado para casa, e estava tão diferente, estava até mais bonito.

Cada um imagina o que quiser, eu não sei a explicação para isso.


O cão misterioso

O cão fugiu de casa e ficou três anos desaparecido. Um dia apareceu magro, feio, raquítico e a dona toda decepcionada exclamou que ele não parecia nada com o cão lindo e forte que tinha sumido há tanto tempo, e falou que daquele jeito era melhor ele voltar para onde estava antes.

No mesmo instante o cão virou e saiu pela porta, e quando a mulher foi atrás para chamá-lo ele simplesmente tinha desaparecido, evaporado!

Será que esta estória é sobrenatural?

Você é esmoler?

 Se você é esmoler (pessoa que dá esmolas frequentemente), fique sabendo que os tempos mudaram, e agora existe uma nova configuração de pedintes, e nessa pandemia a coisa evoluiu de um jeito que temos que nos adaptar, aprender.

Não se atreva a chamar um pedinte de mendigo, ele não é mendigo, pede simplesmente porque precisa, mas é exigente, não quer qualquer coisa, quer de preferência dinheiro, ou então chinelos havaianas e fraldas descartáveis que são produtos fáceis de vender e transformar em dinheiro.

Não dê roupas velhas, eles querem roupas novas de grife, não dê macarrão porque macarrão é fútil, balas nem pensar, se você der balas os moleques fazem guerra de balas, e se der arroz, vão jogar uns nos outros representando um casamento virtual na calçada.

Uma senhora disse que dava comida, ela era contra dar qualquer coisa, mas tinha medo de um dia passar fome e se arrepender de nunca ter dado de comer a um mendigo.

Assim eles pedem de terça à sábado, não trabalham de segunda porque estão cansados do fim de semana, e não trabalham domingo porque domingo é sagrado, só trabalha pecador.

Tem um tipo de pedinte que coage o esmoler, intimida, fala o que quer e quando não recebe faz cara feia, as vezes joga no chão na cara do esmoler, e tem um bêbado que frequenta a porta do supermercado comprando bebidas baratas e se mantendo sempre ébrio, que sentou no chão e ao passar uma pedestre ele sorriu, e a pedestre colocou dez reais na mão dele, assim ele acabou de descobrir uma nova atividade muito lucrativa, sentar no chão e esticar a mão, portanto nunca mais faltará dinheiro para as bebidas.

Um fornecedor veio fazer a entrega de cebola, e deu um saco de cebola para os mendigos, mas como cebola não tem utilidade, eles jogaram o saco na calçada, como jogam roupas, sapatos, biscoitos e qualquer coisa que não precisam no momento, e se depois precisarem é fácil, é só pedir novamente.

Uma pedinte veio para a calçada com um botijão de gás vazio, e como quem quiser doar o gás não vai trazer um botijão cheio para trocar, a pedinte é obrigada a receber em dinheiro o valor do gás, só que quem dá, não vai ficar vigiando se a pedinte vai continuar pedindo, e se a pedinte pode receber 100 reais de cada vez, porque ficar recebendo moedinhas?

A mesma pedinte trouxe um maço de contas para serem pagas, e pediu para um esmoler pagar, então ficou combinado do esmoler pagar e depois mandar o comprovante por e-mail, sim a pedinte tem e-mail, tem internet e tem celular.

Outro pedinte vem com um gatinho de uns dois meses amarrado pelo pescoço e com um cartaz dizendo que mora na rua com a esposa e o gato, e pede ajuda para comprar uma barraca. Disse que uma senhora se propôs lhe dar 600 reais, mas queria o gato em troca, então ele heroicamente disse para ela ficar com seu dinheiro, porque já estava com o gato há um mês e não abriria mão dele, na verdade o gato é um toque artístico para distrair as pessoas a não repararem em sua saúde e condições aptas para o trabalho.

No fim do dia, são muitas as sacolas acumuladas, e vem o marido de alguma delas, ou amigo com um carro em bom estado, põe tudo no porta malas e  vão todos para a favela, e com certeza nunca mais irão trabalhar na vida, afinal nada justifica tamanho esforço, se é tão fácil pedir.


Cada qual com seus medos

 Ele era chefe da segurança em uma loja e enfrentava constantemente situações que exigia jogo de cintura,  as vezes o infrator era fisicamente bem maior que ele e também mal encarado.

Falava abertamente que não tinha medo de nada, aliás apenas uma coisa bambeava suas pernas: gente morta. Chegou a perguntar para um médico se isso era uma doença, e o médico explicou-lhe que não era não, era uma fobia, chamava-se "necrofobia".

Amigos tinha muitos, até arrumar uma namorada, então a coisa mudou, deixou os amigos de lado, mas um amigo seu sempre falava para a esposa que estava com ele quando saia nas baladas, ele negava para quem quisesse ouvir, até que um dia a esposa deste amigo entrou em sua casa acusando-o que mentia, que falava que não saia com seu marido e agora ela comprovou que era verdade, seu marido estava dormindo ali no quarto ao lado.

Ele negando foi conferir e confirmou que realmente o seu amigo roncava na cama, e tinha entrado em sua casa com a permissão de sua mãe.  A esposa do amigo saiu dizendo que iria pegar no seu pé o resto de sua vida por causa das mentiras.

Foi por pouco tempo, infelizmente a esposa do amigo foi acometida de uma doença grave e apesar da radioterapia, quimioterapia e todos os remédios, morreu muito jovem.

Era obrigação sua ir ao enterro, mesmo tendo medo de morto, e foi cumprir seu papel, e quando rezava um pai nosso olhando para a defunta, a defunta abriu os olhos e o encarou.

Ele gelou e foi saindo de marcha-a-ré com os pelos do corpo todos eriçados, e saindo do necrotério foi na cantina e tomou quatro conhaques puros para amenizar o medo.

Novamente perguntou para o médico se a mulher poderia estar viva, e o médico explicou que aquilo era resultado de muitos remédios no corpo causando ainda reações involuntárias.

O tempo passou e ele nunca esqueceu isso, até que um dia a empresa onde trabalhava resolveu mudar o uniforme da segurança e lhe deram um par de sapatos novos, até ai tudo bem, mas depois lhe chamaram para trocar o seu par, afinal ele era encarregado e tinha direito a um modelo especial com cadarços.

Ficou feliz!, mas um pensamento começou a lhe atormentar: seria a morta dando um sinal que sempre iria pegar nos seus pés?