domingo, 14 de novembro de 2021

Alma Índia

Quem gaba a loca é o sapo e quem gaba o toco é a coruja.

A alma índia pulsa mais forte, e mesmo morando numa metrópole, sua mente vive nas matas, faz os chás de ervas, rala a mandioca e come o peixe frito.

Farofa de farinha de milho e carne seca é o manjar dos deuses e num pequeno terreno planta as ervas que seus ancestrais usavam para fazer curas.

Sonha em um dia ter uma propriedade com muitas árvores e um córrego bem chorão, onde os peixes nadam e os pássaros vão beber água.

Gosta de ser chamada por um nome europeu: "Francesca", mas a alma índia gosta de contemplar a lua cheia em dias quentes e ver o sol se esconder no horizonte como seus antepassados faziam na floresta.

Bebe muita água, entorna a garrafa pet na boca e dá longos goles, e na mente segura uma cabaça e gosta de ouvir o barulho dela se esvaziando enquanto sacia a sede, é a índia na mata sentindo a brisa no rosto.

Nestes dias sua família vai se reunir para uma festa, é como se fosse um Kuarup com muita alegria, muita comida e muitas risadas. Não vai ter corrida de toras e nem lutas de corpo a corpo, mas as lembranças de causos passados vão trazer muitas risadas.

A índia é feliz, vive feliz e cultiva também as amizades, sabe que um dia vai morar no céu no meio das estrelas, mas também sabe que continuará ouvindo os grilos e vendo o pisca-pisca dos vagalumes no meio da floresta.

sábado, 23 de outubro de 2021

23 de Outubro

Gente! hoje é meu aniversário e completo 66 anos.

66 é meia meia, um belo número, nem imagino  que bicho seria no jogo do bicho, mas minha geração que curtiu um fusquinha sabe que o meia meia é um número emblemático e até hoje é um sonho para aficionados e colecionadores.

Tive vários fusquinhas, mas o que tive muito mais foram as havaianas. Acredito que ganhei o primeiro par com quatro ou cinco anos e foi comprado em Jales, depois que minha mãe viu um vizinho japonês usando e achou muito legal.

Nunca fiquei sem havaianas, fui crescendo, estudando, trabalhando, me casei e nunca deixei de usar as havaianas.  As havaianas me acompanham nos meus momentos mais íntimos, até no banho quando estou totalmente nu estou usando as havaianas.

Tive várias cores e ultimamente até modelos mais arrojados, mas sempre havaianas.  Nunca consertei as tiras com arame como muita gente faz, acho que é uma coisa tão barata que quando solta as tiras é melhor comprar um par novo.

Na festa do meu casamento não demos havaianas para os convidados como muita gente faz porque não fizemos festa, mas na minha lua de mel junto da noiva levei as havaianas.

Quando eu for embora deste mundo não faço questão de roupas especiais, mas quero levar minhas havaianas, mas deixo claro que não tenho pressa, tomara que demore mais 66 anos.

Na minha lápide podem gravar: "Aqui jaz José com suas havaianas, não por serem as sandálias da humildade, mas por serem as sandálias da utilidade".

Quem ler esta crônica não pode falar que nunca  teve um par de havaianas!, ninguém!. Aliás, quem nunca apanhou da mãe com uma havaiana?

Tive vários fusquinhas, mas havaianas tive muitas, muitas mais, e isto não é ostentação, porque havaianas é igual nariz: todo mundo tem!

domingo, 3 de outubro de 2021

O mundo é dos vivos

Assistindo ao Jornal Nacional vi um caso de um homem que levando sua mãe à agencia bancária para fazer prova de vida, para fins previdenciários, tropeçou na calçada e batendo a cabeça na guia morreu no mesmo instante. Ironicamente tentando provar a vida de sua mãe, não conseguiu preservar a sua própria vida.

Fui dormir com isso na cabeça, e em sonho me preocupei em fazer minha própria prova de vida, sendo que num ano que esqueci de fazer deixei de receber o benefício, e só fui receber depois de regularizar a situação junto a previdência.

Levantei cedo e com isso na cabeça peguei o celular e vi a chegada de um e-mail da prefeitura, e logo percebi que era uma brincadeira que fazíamos nos tempos da juventude, alguém me mandou este e-mail se passando pela prefeitura e dizendo que eu tinha passado da idade que não mais traria vantagens à sociedade e aos amigos, só acarretando prejuízo as entidades assistenciais e desagrado aos que me rodeiam, portanto eu deveria comparecer ao crematório municipal diante do forno número 5 para que fosse incinerado.

Tudo estava muito funesto nas últimas horas, só se falava em morte, Deus me livre!

Antes de entrar na agência bancária, passei na banca de jornal para comprar uma revista de palavras cruzadas, e o jornaleiro que não conheço exclamou:- Tudo bem? quem é vivo sempre aparece!

Olhei assustado para aquele homem que não conhecia e o achei muito parecido com um colega de trabalho que tinha morrido há uns dez anos, chamado Alfredo, acho que até dilatei os olhos assustado, e fiquei mudo sem responder até que chegou uma cliente e pediu a revista Caras, exclamando que só pagaria a conta na semana que vem e perguntou se estava tudo bem frisando o nome de "seu Alfredo".

Muito estranho tudo isso, lembrei de um filme que assisti quando rapaz que um personagem descia de avião numa ilha e reconheceu diversas pessoas que já tinha morrido, o que o levou a concluir que ele estava morto também.

Entrei na agência bancária e fui pedir informações a um funcionário que manipulava o caixa eletrônico, disse bom dia sendo que ele simplesmente não respondeu me ignorando totalmente, esperei até que ele terminasse seu trabalho e virasse para sair quando ele se assustou com minha presença mostrando que só tinha me percebido aquela hora.  Muito estranho, resolvi não perguntar nada, fui no caixa e realizei a prova de vida e sai da agência.

Atravessando a rua um motorista incauto fez a curva cantando os pneus me assustando e gritando:-cuidado tio! quer morrer?, e eu ignorei mas minha vontade era dizer para ele que eu não queria morrer, mas pelo jeito ele queria era me matar.

Andando pela calçada cruzei com um rapaz que distribuía panfletos que eu imaginava ser de algum empreendimento imobiliário, peguei um na mão somente para ajuda-lo em seu serviço e me assustei com o conteúdo que era de vendas de túmulos e jazigos.

Praguejei com a quantidade de coincidências infelizes e um senhor que andava perto veio puxar conversa sobre os panfletos, então contei para ele tudo que tinha ocorrido desde o Jornal Nacional, e ele me disse para não me preocupar, porque infelizmente pessoas tropeçam todos os dias e as vezes com consequências graves, sonhar com um problema também é normal porque ficamos remoendo os problemas durante o sono, sobre o e-mail da prefeitura é normal nós humanos fazermos brincadeiras para nos divertir, quanto ao senhor Alfredo posso dizer que o conheço há anos e ele sempre teve a mesma cara, já foi mais agradável verdade, o rapaz do banco é o Flávio, que faz parte dos contratados com deficiência, ele é surdo, por isso não te ouviu, motoristas incautos tem em todas as ruas de São Paulo, às vezes alcoolizados ou drogados, e finalmente com relação ao rapaz dos panfletos, entenda que é o trabalho dele, igual a todos que vendem produtos, e hoje te afirmo que não ligo mais para essas coisas, mas quando eu era vivo também tinha muita rejeição!


sábado, 24 de julho de 2021

Sonhos

Houve uma época que eu sonhava em ter um skate, já era rapaz, e me imaginava andando de skate, e quando tive a oportunidade de ter um emprestado, subi em cima e numa tarde fria de junho deitei no chão e nunca mais tive esse desejo.

Também sonhei em ter uma vespa, e quando me preparava para comprar uma, meu colega de trabalho que conhecia motos e carros, falou que era besteira comprar uma, porque vespa a gente senta em cima e era muito melhor uma moto, muito mais seguro, porque na moto a gente monta e se prende com as pernas, dando muito mais segurança.

Hoje ainda penso na vespa, e não compro porque sei que as rodas são muito pequenas e consequentemente se sente muito mais os buracos na rua se compararmos com uma moto.

Também sonhei muito com um motorhome ou até um trailer, mas o custo é muito alto para um veículo que não tem grandes reservatórios de água, e se carregarmos uma caixa de 1000 litros, pesará 1000 quilos a  mais, o que é muito difícil, fora o risco que se corre com a segurança pessoal no local onde se estaciona.

Mas uma coisa eu sei:  um dia comprarei um Tuk Tuk, e imagino como deve ser bom andar num veículo tão estranho, mas muito barato, econômico, com espírito de aventura, infantil e cheio de fantasias.

Não pensem que me sinto frustrado em só sonhar e não realizar as ideias, pelo contrário, me sinto realizado em viver sonhando e vivenciando minhas ideias, acredito que muita gente que tem tudo não curte como eu curto, não vive como eu vivo.

Já vi pessoas que compraram um carro novo e disseram que não estão nem ai, não sentem nada! E digo que feliz sou eu que quando compro um carro novo fico perdendo o sono e vivenciando a alegria da novidade!

Mas lembrando, a meta para o futuro é o Tuk Tuk, e como é bom ter um sonho!, esperar, vivenciar, e quem não pensa assim que continue ouvindo o seu funk e me deixe ouvindo os pássaros!

Mistérios

 O gato misterioso

A mulher entra no supermercado com o gato no colo, ela sabe que não pode entrar no supermercado com animais, mas a tentação é grande, e naquele momento cai um objeto no chão que assusta o gato quer sai em disparada e atravessa a rua entrando num depósito do supermercado.

Não se achou mais o gato que se escondeu no meio de muitos materiais de manutenção.

A mulher vai embora e pede para o segurança que quando achar o gato prenda-o para ela, e o tempo passa sem o gato aparecer, até que na semana seguinte o segurança encontra o gato morto, provavelmente comeu algum rato morto com veneno.

O segurança resolve ficar quieto para poupar o sofrimento da mulher, sendo que a expectativa de encontrar o gato dava esperança para a mulher, mas o engraçado é que a mulher apareceu dizendo que o gato tinha voltado para casa, e estava tão diferente, estava até mais bonito.

Cada um imagina o que quiser, eu não sei a explicação para isso.


O cão misterioso

O cão fugiu de casa e ficou três anos desaparecido. Um dia apareceu magro, feio, raquítico e a dona toda decepcionada exclamou que ele não parecia nada com o cão lindo e forte que tinha sumido há tanto tempo, e falou que daquele jeito era melhor ele voltar para onde estava antes.

No mesmo instante o cão virou e saiu pela porta, e quando a mulher foi atrás para chamá-lo ele simplesmente tinha desaparecido, evaporado!

Será que esta estória é sobrenatural?

Você é esmoler?

 Se você é esmoler (pessoa que dá esmolas frequentemente), fique sabendo que os tempos mudaram, e agora existe uma nova configuração de pedintes, e nessa pandemia a coisa evoluiu de um jeito que temos que nos adaptar, aprender.

Não se atreva a chamar um pedinte de mendigo, ele não é mendigo, pede simplesmente porque precisa, mas é exigente, não quer qualquer coisa, quer de preferência dinheiro, ou então chinelos havaianas e fraldas descartáveis que são produtos fáceis de vender e transformar em dinheiro.

Não dê roupas velhas, eles querem roupas novas de grife, não dê macarrão porque macarrão é fútil, balas nem pensar, se você der balas os moleques fazem guerra de balas, e se der arroz, vão jogar uns nos outros representando um casamento virtual na calçada.

Uma senhora disse que dava comida, ela era contra dar qualquer coisa, mas tinha medo de um dia passar fome e se arrepender de nunca ter dado de comer a um mendigo.

Assim eles pedem de terça à sábado, não trabalham de segunda porque estão cansados do fim de semana, e não trabalham domingo porque domingo é sagrado, só trabalha pecador.

Tem um tipo de pedinte que coage o esmoler, intimida, fala o que quer e quando não recebe faz cara feia, as vezes joga no chão na cara do esmoler, e tem um bêbado que frequenta a porta do supermercado comprando bebidas baratas e se mantendo sempre ébrio, que sentou no chão e ao passar uma pedestre ele sorriu, e a pedestre colocou dez reais na mão dele, assim ele acabou de descobrir uma nova atividade muito lucrativa, sentar no chão e esticar a mão, portanto nunca mais faltará dinheiro para as bebidas.

Um fornecedor veio fazer a entrega de cebola, e deu um saco de cebola para os mendigos, mas como cebola não tem utilidade, eles jogaram o saco na calçada, como jogam roupas, sapatos, biscoitos e qualquer coisa que não precisam no momento, e se depois precisarem é fácil, é só pedir novamente.

Uma pedinte veio para a calçada com um botijão de gás vazio, e como quem quiser doar o gás não vai trazer um botijão cheio para trocar, a pedinte é obrigada a receber em dinheiro o valor do gás, só que quem dá, não vai ficar vigiando se a pedinte vai continuar pedindo, e se a pedinte pode receber 100 reais de cada vez, porque ficar recebendo moedinhas?

A mesma pedinte trouxe um maço de contas para serem pagas, e pediu para um esmoler pagar, então ficou combinado do esmoler pagar e depois mandar o comprovante por e-mail, sim a pedinte tem e-mail, tem internet e tem celular.

Outro pedinte vem com um gatinho de uns dois meses amarrado pelo pescoço e com um cartaz dizendo que mora na rua com a esposa e o gato, e pede ajuda para comprar uma barraca. Disse que uma senhora se propôs lhe dar 600 reais, mas queria o gato em troca, então ele heroicamente disse para ela ficar com seu dinheiro, porque já estava com o gato há um mês e não abriria mão dele, na verdade o gato é um toque artístico para distrair as pessoas a não repararem em sua saúde e condições aptas para o trabalho.

No fim do dia, são muitas as sacolas acumuladas, e vem o marido de alguma delas, ou amigo com um carro em bom estado, põe tudo no porta malas e  vão todos para a favela, e com certeza nunca mais irão trabalhar na vida, afinal nada justifica tamanho esforço, se é tão fácil pedir.


Cada qual com seus medos

 Ele era chefe da segurança em uma loja e enfrentava constantemente situações que exigia jogo de cintura,  as vezes o infrator era fisicamente bem maior que ele e também mal encarado.

Falava abertamente que não tinha medo de nada, aliás apenas uma coisa bambeava suas pernas: gente morta. Chegou a perguntar para um médico se isso era uma doença, e o médico explicou-lhe que não era não, era uma fobia, chamava-se "necrofobia".

Amigos tinha muitos, até arrumar uma namorada, então a coisa mudou, deixou os amigos de lado, mas um amigo seu sempre falava para a esposa que estava com ele quando saia nas baladas, ele negava para quem quisesse ouvir, até que um dia a esposa deste amigo entrou em sua casa acusando-o que mentia, que falava que não saia com seu marido e agora ela comprovou que era verdade, seu marido estava dormindo ali no quarto ao lado.

Ele negando foi conferir e confirmou que realmente o seu amigo roncava na cama, e tinha entrado em sua casa com a permissão de sua mãe.  A esposa do amigo saiu dizendo que iria pegar no seu pé o resto de sua vida por causa das mentiras.

Foi por pouco tempo, infelizmente a esposa do amigo foi acometida de uma doença grave e apesar da radioterapia, quimioterapia e todos os remédios, morreu muito jovem.

Era obrigação sua ir ao enterro, mesmo tendo medo de morto, e foi cumprir seu papel, e quando rezava um pai nosso olhando para a defunta, a defunta abriu os olhos e o encarou.

Ele gelou e foi saindo de marcha-a-ré com os pelos do corpo todos eriçados, e saindo do necrotério foi na cantina e tomou quatro conhaques puros para amenizar o medo.

Novamente perguntou para o médico se a mulher poderia estar viva, e o médico explicou que aquilo era resultado de muitos remédios no corpo causando ainda reações involuntárias.

O tempo passou e ele nunca esqueceu isso, até que um dia a empresa onde trabalhava resolveu mudar o uniforme da segurança e lhe deram um par de sapatos novos, até ai tudo bem, mas depois lhe chamaram para trocar o seu par, afinal ele era encarregado e tinha direito a um modelo especial com cadarços.

Ficou feliz!, mas um pensamento começou a lhe atormentar: seria a morta dando um sinal que sempre iria pegar nos seus pés?

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Várias Estórias

 Ele foi avisado que a equipe de filmagens já tinha chegado e aguardavam-no na portaria, então ele se dirigiu para lá onde encontrou o repórter e a assessora de imprensa, uma jovem de uns 25 anos, com uma  vasta cabeleira encaracolada, que se destacava ainda mais por ter um rosto fino e pequeno.

Ele por ser totalmente careca quis ser receptivo com a assessora e disse que gostaria de ter um cabelo igual ao dela, ela sorriu e aparentemente gostou da recepção.

Depois do trabalho de filmagens ser realizado, ela quis ser simpática com ele também, e disse que ele estava de parabéns por ainda trabalhar com aquela idade.

Pergunta: será que ela não gostou da brincadeira do cabelo e deu o troco?



Um cliente coloca 5 potes de sorvete e vários potes de iogurte no carrinho do supermercado e deixa o carrinho no pé da escada rolante, onde subiu para almoçar na lanchonete.  Quando o erro foi percebido por alguém do supermercado, os potes foram devolvidos em em seus devidos freezers e refrigeradores correspondentes.

Uma hora depois o cliente termina o almoço e ao ver que seus sorvetes e iogurtes não estavam onde deixou, tranquilamente vai na seção e pega os potes novamente pagando no caixa e indo embora.

Pergunta: será que ele levaria para casa os potes descongelados e quentes?

Outro cliente que tinha pego na entrada da loja uma lâmpada fluorescente de uns 2 metros de comprimento, faz toda sua compra, que era grande, com o desconforto de carregar essa lâmpada com todo cuidado para não quebrar.

Quando chegou no caixa alguém pediu desculpas pela observação e disse que ele poderia pegar a lâmpada no final da compra para ter mais conforto, no que ele exclamou que tinha feito isso para poder clarear o cérebro de um idiota que pegou os sorvetes e iogurtes e deixou descongelar e esquentar enquanto almoçava.

Pergunta: qual é o mais idiota?



O cliente chega no balcão de frios e pede para o balconista 300 gramas de presunto fatiado, mas queria que fatiasse na hora. Apesar da bandeja de frios estar cheia, a atendente pega uma peça inteira e começa desembrulhar para fatiar, quando o cliente diz que quer que ela parta a peça ao meio e começa fatiar do meio para a ponta, pois queira todas as fatias do mesmo tamanho.  A atendente chama o superior e pergunta se poderia fazer isso, o que é negado, isso faria muitos pedaços prejudicando a qualidade do produto. O superior vira as costas e depois quando volta, a atendente disse que o cliente que já tinha ido embora, queria um quilo de linguiça, mas queria que fosse aberto um pacote novo, não queira a linguiça da bandeja que estava cheia, o que o atendente não atendeu por lógica.

Pergunta: se todos os clientes agissem como este, quem comeria as sobras?, este cliente é muito esperto ou acha que os outros são todos trouxas?

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terça-feira, 11 de maio de 2021

O Antiquário

 No aniversário de 34 anos da minha filha mais nova, Mariana, ela alugou um sítio em Ibiúna, interior de São Paulo, para passarmos o fim de semana comemorando também o dia das mães.

Ao chegarmos no local não tive a melhor impressão, a aparência era de uma casa velha com móveis velhos, porém observando melhor vi que a casa era a maior parte feita de material de demolição, de muito bom gosto e os móveis e decoração eram todos antiguidades, alguns do século XIX e outros do início do século XX.

Muitas vidraças dão visão para o verde da mata atlântica e para o pasto, onde vacas Jersey pastam tranquilamente acompanhadas pelos quero-queros, e no céu a revoada de pombos é constante.

O que muito me intrigou foram várias rodas de pedra, algumas com 1, 2 e até 3 metros de diâmetro e largura de até uns 30 centímetros enfileiradas junto de uma grande mesa de pic-nic com bancos também de pedra pesados, o que me arremeteu a Stonehenge na Inglaterra, com todos os seus mistérios.

Também ferramentas agrícolas antigas, verdadeiras peças de museu, e vasos e urnas de cerâmica, postes em ferro que sustentavam os antigos lampiões à gás, e vários galpões com serras imensas e muita madeira de demolição empilhada.

Nas arvores próximas da casa saguis de tufo branco mostravam todas sua curiosidade com os visitantes, e tucanos-de-bico-preto saltitavam de galho em galho desviando nossa atenção das borboletas azuis de rara beleza.

Na primeira noite tivemos comida japonesa, guioza de legumes e shimeji na entrada e okinawa soba no jantar, ou seja a guioza é uma espécie de ravioli de legumes e o okinawa soba é um macarrão japonês servido com costela de porco cozida com shoyu e se come acompanhado de gengibre ralado e em conserva que é o beni shoga, e de sobremesa manjar de coco com calda de ameixa.

No sábado de almoço tivemos risoto de shitake com filé-mignon e no jantar os petiscos de castanha de caju, amêndoas, pistache e o tradicional pão, queijo e vinho.

No domingo aconteceu a coroação das rainhas, a mãe e a aniversariante, e depois o pic-nic com toalha xadrez do lado de fora da casa, com pães, pães de queijo e acompanhamentos levados em cestas apropriadas, e no almoço, comemos hambúrguer de costela bovina, minha especialidade de fabricação própria, com direitos a todos os acompanhamentos devidos, e na hora de ir embora, aconteceu o parabéns à você com bolo de cookies.

Na sala uma mesa de pebolim em ferro maciço traz um toque nostálgico e uma escada de madeira nobre de uma antiga mansão de São Paulo completa o clima de um mundo que não existe mais.

Mas voltando à ,minha intriga com relação as rodas de pedra, perguntei para o caseiro o que aquilo significava, e ele explicou que o antigo proprietário, pai do atual, era antiquário e viajava todo o país comprando antiguidades, e aquelas rodas eram de moinho de cereais que se usava antigamente.

Refletindo, pensei, como a vida é efêmera, um homem que se dedicou a vida toda convivendo com a história de pessoas, valorizando e admirando seus bens, depois de dez anos de sua morte ainda podemos sentir sua presença naquilo que deixou.

Para nós ficou a gostosa lembrança de um fim de semana maravilhoso, dando parabéns à aniversariante Mariana, e desejando felicidades às mães, e como disse o seu Dorival, às futuras mães também.

sábado, 17 de abril de 2021

Observar, Insistir, Constatar

 A pré-adolescente vê na televisão uma reportagem sobre a morte do príncipe Philip e a situação da família real, e usando uma força de expressão, fala para a mãe que desconfia que a rainha Elizabete e o Sílvio Santos são a Eva e o Adão.

A mãe pergunta o porque dessa observação, e ela diz que são muito velhos e nunca morrem, e pergunta se quando a mãe nasceu eles já eram velhos.  A mãe diz que sim, já os conheceu velhos.

Mas a mãe diz que não se pode avaliar por isso, que nem tudo que parece ser, é na verdade, e lembra a filha que o Lula ganhou um triplex e nem por isso em outra encarnação foi Judas que  ganhou trinta moedas, diz também que viu o Dr. Drauzio Varella ensinando como se lava as mãos na pandemia, e nem por isso é reencarnação de Pilatos, fala também que Moisés morreu há muito tempo e a pandemia é uma praga da China, não do Egito.

Mas fala para a filha que sempre deve observar, insistir e constatar, e somente assim o ser humano faz descobertas e evolui.  Mas pede para ela ficar atenta, pois se a rainha Elizabete e Sílvio Santos trepados em uma macieira forem picados por uma cobra, então pode ter certeza: foram Eva e Adão!

sexta-feira, 5 de março de 2021

Estória 99,9 % Verídica

 Nessa época de pandemia é comum encontrarmos produtos de limpeza no supermercado com os dizeres "99,9 % eficaz na eliminação de bactérias e fungos"

Então faço questão de dizer que esta estória é 99,9 % verídica, e somente 0,01% é fictícia, para poder fazer o arremate artístico da crônica.

Também é bom destacar que aqui não existe a intenção de fazer humor ácido, e sabemos que pessoas inteligentes as vezes fazem deboche de suas próprias desgraças, e tem mais, na espiritualidade quem disse que uma deficiência física é desgraça?

Então vamos à estória, que começa quando duas amigas que conversam no banco do ônibus, e uma delas fala rindo que um dia quando saiu do serviço, virando a esquina encontrou uma sacola de shopping cheia de alguma coisa, então ela parou, abriu a sacola e viu que eram vários sapatos masculinos sem uso, tirou um da sacola e viu que era o mesmo número do seu marido.

Toda feliz ligou para seu marido contando a novidade, estava levando-lhe vários presentes, mas o destino reserva surpresas, e quando chegou em casa tirando os sapatos da sacola viu que todos eram novos, sem uso, porém todos eram somente do pé direito.  Entre gargalhadas e sem entender nada, o marido lembrou que tinha um primo no Maranhão que não tinha uma perna, mas não conseguia lembrar que perna faltava.

Ligou imediatamente para o primo que confirmou que tinha somente a perna direita, e por dupla coincidência, o pé era a mesma numeração dos sapatos. Tudo resolvido, os sapatos seriam despachados pelo correio e seriam aproveitados, bem aproveitados.  

Nesse momento a moça sente um toque no ombro, e assustada olha de esguelha para trás, onde um senhor que tinha ouvido a estória pergunta se por acaso o primo do Maranhão não teria ganhado um skate em algum momento de sua vida, pois ele tinha um carrinho de rolimã, mas sonhava com um skate, e precisava dele para se locomover porque não tinha as duas pernas.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Hoje é o casamento da Adriana e do Rafael

 Tudo começou através de um aplicativo, mas não foi por acaso.  Vamos lembrar que os dois pegaram o bonde errado, e vocês sabem que Deus tem esses caprichos, faz as pessoas pegarem o bonde errado, para depois se encontrarem na estação certa.

Quando marcaram o primeiro encontro, que era num restaurante, ela fez questão de dizer que estava com uma roupa listrada, para facilitar o reconhecimento, e ele para ter certeza que não erraria, perguntou o tamanho das listras, e foi munido de uma régua para fazer a medição.

Ela como é muito objetiva, levou um papel com as instruções para ver se ele seria aprovado no teste. As instruções eram de Vinícius de Morais, e ela leu em voz alta:

"Para se viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro,

E ser de sua dama por inteiro, seja lá como for 

Há de fazer do corpo uma morada

Onde clausure-se a mulher amada

E postar-se de fora com uma espada

Para se viver um grande amor"

Ele ficou feliz! era como se tivesse passado no vestibular de medicina da Santa Casa, com a nota máxima, isso era moleza, ele até tinha sua armadura de um material mais forte que o aço, uma armadura de amor, era só vestir e defender a dama.

Mas ele também tinha suas exigências, e então sacou um papel com as instruções de Elba Ramalho, para ver se ela era aprovada, e leu em voz alta:

"Para descrever uma mulher

Não é do jeito que quiser

Primeiro tem que ser sensível

Se não é impossível

Quem ver, por fora, não vai ver por dentro

o que ela é,

É um risco tentar resumir 

Mulher

Que a divina natureza fez surgir

A mais linda obra prima que alguém já viu

Assim nasceu a mulher nas mãos de Deus...

Por mais que o homem possa ter,

Sem ela não dá pra viver

As vezes pede proteção,

Pra ter um pouco de atenção

Se fingi ser tão frágil mas, domina quem quiser

Pois ninguém pode definir

Mulher...

Mulher..."

Então Adriana disse feliz:-sou eu! como me descreveram tão bem!

E assim aconteceu o início do namoro, os sentimentos foram tão fortes que em pouco tempo resolveram se casar, mas Deus como diz Chico Buarque, é um cara gozador, e permitiu a vinda da pandemia, e a pandemia foi atrasando o casamento, marcavam a data e algo impedia.

Neste meio tempo foram morar no mesmo teto, e ai o Rafael fez um curso com Jamie Oliver, para aprender fazer risoto de abóbora e sobremesa gelada, também aprendeu a gostar de gatos, e conviver com eles, aprendeu a apreciar o vinho verde, e a Adriana aprendeu... a ser feliz!

Mas finalmente chegou o dia do casamento, não era como queriam, teriam que se privar da presença de amigos tão queridos, e os pais, irmãos e cunhados tiveram que fazer exame de Covid antes, para ver se todos estavam bem, e com todos os cuidados estamos aqui neste lugar maravilhoso para comemorar tão linda data.

Os pais, irmãos e cunhados, só desejam a felicidade dos noivos, e como é um casamento real, podemos dizer: Vila longa aos noivos!





domingo, 10 de janeiro de 2021

Bocomoco

Não me perguntem porque acordei com esta palavra na cabeça, Bocomoco, que significa brega, cafona, fora de moda, careta, ultrapassado e dégodé, que também é uma palavra bocomoco. 

Nos anos 70 e 80 tinha um comercial do guaraná Antárctica onde um personagem ao identificar uma pessoa ultrapassada, apontava com o dedo e gritava bocomoco.  O personagem dizia que o único antídoto ao bocomoco, seria tomar o verdadeiro guaraná brasileiro. Caso queira ver o comercial acesse o You Tube.

Em 1999 a  Sukita também lançou um comercial que uma jovem entrava no elevador tomando uma Sukita com canudinho, e um galanteador para puxar conversa perguntou se a Sukita estava gostosa e quando a jovem disse que sim, ele perguntou se ela era nova no prédio, então ela disse que sim e pediu para ele apertar o botão de seu andar, chamando-o de tio.  Sua cara caiu no chão sentindo ser chamado de velho.

Num segundo episódio, o galanteador percebe que está acontecendo uma festinha de jovens no andar de cima, então se arruma, coloca um perfume bucal e vai bater na porta.  Diz que percebeu que estava acontecendo uma festinha, com intuito de ser convidado, mas a moça mais que depressa ´pergunta se o barulho o acordou, pede desculpas e diz que vai abaixar o som fechando a porta na sua cara. Novamente se sente ser chamado de velho que dorme cedo. Estes comerciais da Sukita também podemos ver no You Tube.

Em 1982 Ary Toledo e Viana Júnior fazendo um comercial da Vimave, andavam na estrada debochando dos carros quebrados falando a frase "Pois é!" até que o carro deles também quebrou, então foram na Vimave comprar um carro novo.  Até hoje, 39 anos depois a palavra "pois é!" é designação de carro velho. Também veja esta  no You Tube.

Comerciais que são verdadeiras obras de arte e marcaram época, ideias simples e inteligentes!

A Pandemia

 O homem neste planeta sempre encontrou obstáculos para a sobrevivência, quer para se proteger dos fenômenos naturais, clima, catástrofes, quer para se alimentar, plantando e coletando vegetais ou então criando ou caçando animais.

Durante séculos o homem lutou para sobreviver, e devido sua natureza frágil, sempre teve de viver em grupos, em sociedade, o que propicia epidemias e pandemias.

A falta de saneamento destruiu cidades e povoados e só com higiene e cuidados o ser humano pode se proteger de doenças, pragas, epidemias e pandemias.

Durante séculos o homem sofreu com pragas e pestes, e se não bastasse isso ainda permitiu a escravidão, as guerras mundiais ou de região, as guerras ditas santas, o holocausto e os preconceitos que até hoje nos torturam.

Nossa geração conheceu uma pandemia de um vírus que é fácil de combater, basta água e sabão e álcool para destrui-lo, mas para produção de uma vacina para evitá-lo temos que nos conformar com políticos que só sabem fazer política, não sabem usar a mais poderosa arma que o ser humano tem que é o amor.

O que nos resta? Só o sofrimento de vermos nossos semelhantes sucumbirem e nos cuidarmos e nos protegermos para passarmos por mais esta etapa de desenvolvimento da humanidade.