sábado, 28 de julho de 2018

A viajante

Era a terceira vez que a vi na rua João Ramalho próximo a Av. Sumaré, um tipo magra, alta, com a idade entre 45 e 50 anos, sempre com duas malas de rodinha como se estivesse pronta para viajar.
Como estava frio ela vestia um elegante sobretudo, era uma típica passageira de trem, embora ali não existisse nenhuma estação.  O mais provável era que estivesse esperando um taxi ou uma carona pois não estava próxima ao meio fio, e a postura ereta era bem elegante e condizia com o glamour do bairro.
Entre as mil possibilidades podia ser que estivesse indo para a casa do filho, ela seria a sogra chata que iria passar uns dias e se intrometer na vida do casal, ou então poderia ser a sogra maravilhosa que iria para a casa da filha para ajuda-la cuidar do bebe recém-nascido nos primeiros dias de vida.
Também poderia ser uma secretaria que iria para o aeroporto pegar um voo  para o nordeste, presente do seu diretor em aproveitamento de milhas acumuladas.
Olhava um cartão na mão como se conferisse algum detalhe, provavelmente um cartão de banco.
A noite caia, e ela deixou as malas na porta do bar pedindo que o atendente tomasse conta, e foi ao toalete, na saída sorriu para o atendente que lhe entregou uma sacolinha com um marmitex e desceu a  rua procurando um lugar aconchegante para pernoitar.
Mais uma vez olhou o cartão e confirmou que a igreja só iria dar a cesta básica no dia seguinte, então ai por alguns dias teria mais conforto sem depender da caridade do atendente do bar.
Foi até uma porta mais recuada, abriu a mala e retirou um papelão, se ajeitou, comeu o marmitex e se preparou para dormir se cobrindo com um cobertor velho.  Mais uma noite que ela dormia na rua, e lembranças percorriam sua cabeça, e podiam ser mil possibilidades de lembranças.

E agora José (4)

Ajude sem exigências, para que os outros o auxiliem sem reclamações

As pessoas com que me relaciono, eu ajudo sem exigência alguma e também espero que me auxiliem não por obrigação, mas de boa vontade e sem reclamações.  Ajudar me faz bem, me da prazer, me realiza e me faz sentir melhor.
Se eu as ajudasse esperando o retorno ou o pagamento de um auxilio sem reclamações com certeza me decepcionaria porque muitas vezes nunca teria um auxilio que estava esperando, entendo que no ser humano além do não reconhecimento de alguns também tem a ingratidão de outros.
Tento no meu dia a dia agir como um cristão, se não ajudo ou não posso ajudar, também não atrapalho e deixo cada qual seguir seu caminho e suas escolhas.  Agora um situação bem oposta é no trabalho lidando com o cliente que o ajudo não exigindo mas esperando um retorno e também espero que eles me auxiliem sem reclamações e com satisfação, afinal na atividade  comercial tem que haver reciprocidade de satisfações para que o ato comercial volte a acontecer.
O sucesso do comercio não é apenas uma única venda de um produto ou serviço, é o retorno e a repetição do ato comercial quando o cliente fica satisfeito.
Mas no meu dia a dia, como a ação de ajudar é automática, e por ter se tornado rotina, tanto para as pessoas que convivo como para os clientes, faço sempre com prazer.
Ainda, no meu contato esporádico com outras pessoas, dando passagem no transito ou preferencia para alguém passar na minha frente, nunca me sinto inferior, pelo contrario, por dentro me sinto superior.

domingo, 15 de julho de 2018

Morreu ontem, mas hoje ja foi para o trabalho

Naquela época ele fazia cursinho preparatório para o vestibular, e como não gostava de estudar em casa, fazia questão de não faltar nas aulas e prestava muita atenção nas explicações dos professores.
Durante uma aula de biologia de um excelente professor que ensinava imitando as vozes de personagens de desenho animado, ele teve uma súbita falta de ar, o que o fez se levantar e se retirar da sala de aula.
No caminho de casa dentro do ônibus teve novamente aquela falta de ar, e quando chegou em casa falou com sua mãe que o levou à farmácia. O farmacêutico mediu sua pressão e disse que estava  normal, que aquilo não era nada, era só um problema nervoso.
Nunca mais conseguiu ir no cursinho, agora a ansiedade não o deixava ficar numa sala fechada, e tinha dificuldade para ficar no trabalho, muitas vezes ia ao cinema e não conseguia assistir o filme inteiro, sentava sempre perto do corredor para poder sair a qualquer momento e colocava os joelhos na poltrona da frente como que para se obrigar a ficar no lugar.
Sentia também uma pressão na cabeça bem na testa e sua vontade era que fosse possível abrir a cabeça para ver onde estava o problema. Nessa época ainda não se conhecia a Síndrome do Pânico, e o que ele sentia era considerado simplesmente um problema do sistema nervoso.
Dai começou a maratona à médicos da saúde publica ou do sindicato, e a pergunta dos médicos eram sempre as mesmas, se dormia bem, se tinha uma vida sexual normal ou então pior ainda, nem levantavam a cabeça, simplesmente receitavam algum remédio faixa preta.
Ele procurou centros espiritas e umbandistas e a resposta era sempre que algum irmãozinho espiritual o estava incomodando, também parou em rodas evangélicas nas ruas e por ultimo chegou a ir numa igreja Seicho-No-Ie.
Numa das idas à um psiquiatra ele se queixou para o medico que queria resolver seu problema, queria ser curado, e não queria ficar como algumas pessoas com os olhos estatelados ou esbugalhados na sala de espera que iam mensalmente no consultório buscar a receita médica.
O médico muito atencioso disse que seu problema era psicológico e não psiquiátrico e que a saúde pública não dispunha dessa modalidade para adultos, somente para crianças, então ele o encaminhou para uma psicóloga da clinica que se propôs a encaminha-lo para psicólogos terceiranistas da Usp ou Puc.
Nesse interim chegou a seu conhecimento uma clinica de parapsicologia fundada pelo cientista brasileiro Prof .Dr .Frei Albino Aresi que era uma sumidade respeitada no mundo inteiro pelos seus estudos nessa área da medicina. O tratamento era feito sem remédios somente usando a parapsicologia com suas ferramentas entre as quais regressão de idade e hipnose.
Durante as varias sessões do tratamento, até seu olhar mudou de expressão, isso quem falou foram duas irmãs que também frequentavam a clinica com um filho de uma delas, que tinha um, problema aparentemente simples, não conseguia desfalecer quando ia dormir, ficava com os olhos arregalados e só percebia que tinha dormido quando acordava no dia seguinte, ou seja tinha medo de como se diz poeticamente, se entregar nos braços de Morfeu. O problema foi resolvido com regressão de idade, descobriu-se que quando ele era bebe seu avô tinha morrido e ele tinha medo de dormir porque tinha medo de morrer, ele associava o sono à morte.
A cura foi imediata, problemas assim quando são descobertos o motivo, a cura é instantânea. Mal sabia o bebe ou talvez soubesse muito bem que toda noite morremos e todo dia novamente nascemos para a vida.
Mas voltando ao assunto anterior o tratamento prosseguia e o ponto alto foi quando ele em estado Alfa, plenamente consciente, foi orientado pela paranormal que o acompanhava a mentalmente abraçar seu pai, o que não conseguia de forma nenhuma, e foi obrigado, quando a paranormal apertou com a unha o lóbulo de sua orelha induzindo-o pelo subconsciente a aceitar uma ordem, e fê-lo entregar rosas vermelhas para seu pai, afinal rosas vermelhas significam amor.
A cura a grosso modo aconteceu, mas os medos tinham que serem superados aos poucos, e farpas psicológicas só foram restauradas após anos, uma luta contínua dele com ele mesmo, sem remédios químicos, mas com a ajuda de Deus.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

E agora José ? (3)


A sua irritação não solucionará problema algum

Algumas coisas me irritam. Pessoa insistente é uma delas,
 a pessoa me liga tentando me convencer a comprar algo que eu não quero, só que ela usa a tecnologia e sabe meu nome e sabe meus dados.  Já aprendi ser curto e grosso, falo que não tenho interesse nem de conhecer os detalhes, nem de saber as  maravilhas que estou perdendo, agradeço muito e me despeço.
Outra coisa que me irrita é ligar o radio do carro ou a televisão e o assunto ser futebol ou ainda se  a emissora estiver meio fora de sintonia com chiados ou imagem ruim, de imediato mudo de estação e na pior hipótese desligo o aparelho.
Mas o que pega mesmo é quando estou na estrada e o carro da frente começa a ficar lento, talvez olhando o celular, e começa a se distanciar do carro a frente dele, acho um tremendo desrespeito e assim que possível o ultrapasso e desejo que fique com Deus, mas bem longe de mim.
Tanto no atendimento do telemarketing, como na emissora que transmite futebol ou esta fora de sintonia ou dos distraídos na estrada, sei que não adianta me desgastar e me irritar porque não vou mudar nada, então quem muda sou eu. Eu posso!
Mas escrevendo isso concluo que tomo essas atitudes de imediato não porque eu seja bem resolvido não, constatei que tenho um defeito grande: sou impaciente mesmo.

domingo, 1 de julho de 2018

Bola de cristal

As imagens estavam turvas, mas elas falavam de flores, muitas flores, um homem forte com mãos grandes aparecia, queria que ela nunca saísse do seu lado, seria um amor eterno.
Visualizava também um lugar muito sereno, arborizado, os pássaros cantando e muita paz a sua volta, era como se fosse um mundo de fantasia, durante o dia o sol dourado no horizonte e a noite as estrelas piscando no céu.  Era um verdadeiro sonho, seria um amor utópico.
Ela contava para a mãe o que a vidente tinha falado, e viajava em seus sonhos, suas ilusões, e a mãe descrente dizia que tudo isso eram bobagens, que ninguém poderia ver numa bola de cristal o futuro ou o passado, e que até o presente que estamos vivenciando não conseguíamos enxergar e entender bem.
Mas o coração jovem suspirava e a esperança de realizar os sonhos cegava-a.
Um mês depois do corpo ser encontrado com sinais de asfixia por mãos fortes no pescoço, a mãe saia do cemitério e em lagrimas lembrava da visão da vidente, ela tinha acertado até nos mínimos detalhes, que pena que tinha acertado, mas a bola de cristal é igual o presente que vivenciamos, não enxergamos e não entendemos bem.