segunda-feira, 26 de março de 2018

O Amo e o Lacaio

Descem a rua calmamente, um atrás do outro, nunca um ao lado do outro, nunca um conversando com o outro.
O da frente ligeiramente gordinho, com uma calça preta, uma camiseta preta, sapatos pretos e com uma sacola de feira na mão, entra no mercado, o outro, magrinho de barba rala, muito rala, apenas alguns fios, calado, segue atrás e na porta do mercado para e fica esperando seu companheiro, atento como se pudesse ser chamado a qualquer momento.
Não se olham, não se falam, parece existir um imenso abismo entre eles, não se sabe se é cultural ou social.  A impressão é que cada qual sabe seu papel e cada qual cumpre seu papel.
Ambos parecem alienados, o gordinho parece sempre estar bravo, impaciente, sem tolerância com o magrinho, e o magrinho parece muito triste e com medo do gordinho.
Fica-se imaginando que o gordinho é musico por causa da roupa preta, mas pergunta-se onde o magrinho entra nesta estória, qual o seu papel?
Não carregam instrumentos musicais, mas o horário da compra é constante e depois da compra sempre vão na mesma direção.
Enquanto o gordinho faz as compras o magrinho o espera na porta olhando atendo para o vazio, é uma relação muito mecânica e impessoal.  Pode-se pensar que saíram de um castelo para comprar víveres para um nobre qualquer, mas são só especulações, só há uma certeza, um é amo e o outro é lacaio.

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