quinta-feira, 12 de junho de 2025

Bebê Reborn

--Mãe, eu vou comprar um bebê reborn.

--Você não acha que está muito crescidinha para brincar com bonecas?

-- Eu não vou brincar, será para apoio psicológico.

--Apoio psicológico? Quando eu era jovem o apoio psicológico que eu tinha chamava chinelo,

puxão de orelhas, ou algum castigo.

--Mãe, os tempos mudaram, a ciência evoluiu, o ser humano evoluiu, hoje temos

conhecimento que existem suportes para sermos mais felizes, são verdadeiras

muletas.

--Faz o que você quiser, problema seu!

Dias depois a filha aparece com um boneco sofisticado, caro, semelhante a um bebê

humano, super realista.

--Olha mãe, seu neto como é lindo.

--Neto? Você não casou, não engravidou, não tem leite para dar de mamar, não seria melhor você lavar a louça?

--Credo mãe, vou colocar ele no carrinho e dar uma volta para relaxar.

--E ainda tem o carrinho?

Assim a filha começou sair com o carrinho na rua, depois passou a sair a noite também, ia nas portas das escolas e voltava comentando os elogios que seu bebê recebia.

--Mãe, eu falo para os estudantes que meu bebê é lindo, mas dá muita despesa de fraldas, talco, papinhas e remédios, e você não acredita, eles insistem em me ajudar fazendo um pix. Isso é muito comum com aqueles viajantes que passeiam pelo Brasil ou pelo mundo, fazem vídeos para o Youtube, recebem dinheiro pela venda dos vídeos, e recebem pix dos chamados apoiadores, o mundo tá doido mãe.

--Queria saber porque o bebê reborn causa tanto fascínio! , acho que é porque ele não faz cocô e não chora a noite.

Assim, como a filha recebia muitos pix, começou a se vestir melhor, deixou o serviço que fazia em algumas horas do dia, disse que agora se dedicaria apenas ao filho, e comprou um carro usado.

Nas portas das escolas, alguns alunos perguntavam para os colegas se tinham visto a moça do carrinho de bebê, todos adoravam conversar com ela.

--Mãe, vou levar meu filho para conhecer o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, mas não vou de carro, vou de avião, tomara que ele não se enjôe.

 --Quem já esta enjoada sou eu!

Dias depois, a mãe assiste o jornal na televisão, quando uma notícia lhe chama a atenção, o repórter direto do aeroporto, explica que o cão farejador da policia anti drogas que fazia um trabalho no aeroporto, começou a latir para uma moça que carregava um lindo bebê reborn, a moça foi abordada, levada para uma sala reservada e revistada, e encontraram na barriga do bebê mais de 1 kilo de cocaína. A moça com cara de falso arrependimento disse para o policial:

-- Eu sou besta mesmo, poderia estar tranquila só vendendo maconha nas portas das escolas, mas fui gananciosa e quis ganhar muito de uma vez, mas tenho muito dinheiro no banco, só tenho que achar a pessoa certa para negociar minha liberdade

sexta-feira, 21 de março de 2025

NOSSA INDECISÃO

 A quem possa interessar, estamos atravessando um problema grave, que não podemos resolver, que não sabemos como resolver, e caso você tenha uma solução, nos dê a luz por favor.

Primeiro pensamos em consultar um médico, mas que especialidade? Não sabemos, então concluimos que o melhor seria primeiro passar por um clínico geral, para que ele analise e nos encaminhe à especialidade competente.

Não sabemos se é só influência ou se é um desvio de personalidade, não sabemos se é uma admiração pelo companheiro ou se é uma inveja, não sabemos.

Resumindo, nosso cão chihuahua de nome Kimono age como um gato, e nosso gato srd de nome Geraldinho esta agindo como um cão, é o que temos observado e comprovado.

Não é normal um cão tentar escalar alturas, ele não tem unhas para se prender nos moveis e não está preparado para cair como um gato cai, sempre em pé, e nosso cão esta escalando o encosto do sofá. Por outro lado, não é normal um gato fazer xixi fora da caixa de areia, muito menos no tapete higiênico, e muito menos no chão nu da cozinha, e nosso gato fazendo uma posição canina, faz o xixi.

A redinha debaixo da cadeira é destinada ao gato, ele adora, mas em casa quem vive la esticado é o Kimono, sorte que temos duas redes.

As rações, eles ignoram se é de cão ou de gato, os dois comem da mesma ração e acham isso muito natural, os dois pedem petisco, latindo ou miando e nos levando onde os petiscos estão guardados, que fique claro, que quem late é o cão e quem mia é o gato, pelo menos por enquanto.

A água é compartilhada, os dois bebem na mesma vasilha.

Então pedimos ajuda para entendermos o que acontece, porque se continuar assim, quem precisara de um psicólogo ou psiquiatra seremos nós. Gratos!

 Autor-José Dias Hilário  19-03-25

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Solidão

Entrei num Uber quando o locutor do rádio comentava o caso do policial que jogou um homem da ponte dentro de um córrego.

-Esse mundo esta louco mesmo, o policial que devia proteger o cidadão, ou prender se fosse necessário, joga o infeliz no córrego, comentei.

-Verdade, o mundo esta louco mesmo, o senhor deve ter visto que meu conceito na Uber é muito bom, né?

-Na verdade não vi não, não costumo ver esses detalhes.

-Pois é, eu já fazia 2 anos que não recebia reclamação nenhuma do meu serviço, quando ontem recebi, e quis saber os detalhes para corrigir e não repetir. A Uber mostrou a reclamação da moça para mim. Ela reclamou dizendo que o carro estava limpo, e eu a atendi com muita educação, mas o carro tinha um barulhinho tic tac, que a incomodou muito, e a levou a fazer a reclamação.

-E o seu carro tinha um barulhinho mesmo?

-Não! Meu carro é novo, não tem nada batendo, eu quebrei a cabeça tentando descobrir o que era esse barulhinho.

-E descobriu?

-Sim, depois de muito tempo, liguei a seta e começei ouvir um tic tac tic tac tic tac!

-Não acredito! Essa moça nunca tinha andado de carro? Ela não sabia o que era o barulhinho?

-Pelo jeito não, ou então estava muito solitária e desprezada, e sentiu necessidade de dar um sinal de vida reclamando sem saber do que!

-Mas será que isso pode acontecer?

-Pode! Um dia eu andava de metrô e o senhor sabe né, quando as pessoas mexem no celular, acabamos por ver, e até ler o que elas escrevem, principalmente quando o metrô esta cheio, que a proximidade dos passageiros é maior.

-Verdade!

-Então, uma senhora dos seus 50 anos, faço questão de falar a idade, porque fiquei curioso quando ela abriu a agenda de contatos, e vi escrito: “AMOR ATUAL”. Fiquei pensativo, porque atual? Não consegui ver se junto tinha outro contato “AMOR ANTIGO”, mas fiquei encucado com aquilo.

-Sera que não seria para provocar algum namorado? Ou será que tudo era tão passageiro que ela precisava lembrar qual era o atual?

-Acho que não, cheguei a conclusão que era o mesmo caso da passageira que peguei no Uber, ela era muito solitária e desprezada, e sentiu necessidade de escrever o contato no celular, para ler e curtir que estava sendo amada por alguém.

 

O Mentiroso

Sério! Estamos falando do cabacinha de fogo, e a origem desse apelido é que Praxedes morava no sertão da Bahia num município chamado Cocal, e quando ainda menino foi no povoado para a festa da padroeira, e encontrou a praça da igreja toda enfeitada com luzinhas coloridas, e na empolgação falou para o pai:- olha pai, cabacinhas de fogo! E vocês sabem que no Brasil é assim, falou, pegou né?

E o menino cresceu com um defeito grave, era mentiroso, e inteligente também, e criava mentiras que todo mundo acreditava, e quando apareceu em casa com uma bicicleta, disse para os pais que tinha caído de um caminhão na estrada, mas não tinha caído, foi quando o caminhão parou no posto para comprar um lanche, ele subiu e jogou a bicicleta no chão, e como o caminhoneiro saiu sem perceber, e nunca mais voltou, ficou a mentira pela verdade.

Também foi assim que ele chegou em casa com um filhote de papagaio, e disse que o gavião tinha atacado o papagaio adulto, então ele com dó do filhote resolveu pegar para criar em casa, e assim o mentiroso ainda ficou com fama de bom menino.

Ele dava calote na venda comprando fiado e enganava as moças dos povoados vizinhos passando por um homem rico e solteiro, e quando descobriam, era pernas para que te quero.

Já adulto, e precisando de dinheiro, falsificou uma intimação do Exército Brasileiro, convocando-o para a guerra, não guerra brasileira, e sim a guerra entre a Croácia e a Rússia, e teria que viajar para a Rússia o mais depressa possível, mas como? Se não tinha nem um tostão.

Todos ficaram orgulhosos de um filho da terra ser convocado para uma guerra tão comentada, e quando ele passou a lista de ajuda, todos queriam ajudar, seja de Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Boninal, Barra dos Mendes e até de Seabra.  Conseguiu muito dinheiro, além das rapaduras e dos sacos de farinha, que deixou com os pais porque não cabia na mala.   Assim ele partiu para São Paulo para pegar o avião em Guarulhos, mas quando chegou em São Paulo se instalou numa pensão barata no bairro do Brás e foi curtir o dinheiro que tinha para gastar.

De vez em quando, mandava uma carta para o prefeito de Cocal nesses termos:

Moscou, 10 de Outubro de 2024

Aqui 5 graus, um frio da gota, fui levado a um local chamado Kremlin que é a residência dum tal de Vladimir Putin, um cara com cara de mau, e ele me pediu ajuda para derrotar Volodymyr Zelensky, e me escolheu porque tinha ouvido minha fama, disse que eu era muito perspicaz e era de perto da terra onde o grande Lampião foi derrotado, e eu falei para ele, a única possibilidade seria ele usar uma arma chamada Badoque.

Um mês depois, Cabacinha de fogo escreveu:

Moscou, 10 de Novembro de 2024

Aqui -3 graus, um frio infernal, Putin me chamou e disse que seus generais não conheciam tal arma, conheciam, granadas, canhões, misseis, bombas atômicas, mas não conheciam Badoque.

E no Brás, Praxedes vivia feliz! gastando dinheiro, comprando carne seca na rua Cavalheiro e vendo as putas no Largo da Concórdia, mas a saudade de Cocal começou a apertar, e o dinheiro estava acabando, ele achou melhor acabar logo com esta guerra e voltar para a terra,

Um mês depois, Cabacinha de Fogo escreveu:

Moscou 10 de Dezembro de 2024

Aqui – 7 graus, um frio filho da puta, vou acabar com essa guerra e voltar para Cocal.

E assim, Cabacinha de Fogo, mandou Vladimir Putin encostar de frente na parede e contar até dez, que ele lhe revelaria o grande segredo para acabar com a guerra, assim Vladimir Putin encostou, contou até dez, e quando se virou, viu um gravador escrito aperte aqui no play, e quando apertou ouviu uma gravação que dizia: “enganei um bobo na casca do ovo”.

Assim Cabacinha de fogo voltou para Cocal, para receber as homenagens com banquetes e muito forró, não por terminar com a guerra, mas por enganar um otário internacional!

FIM

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Novamente em Portugal

Se da primeira vez me encantei e senti um calor no coração, agora chego com o espírito aberto para absorver novamente essa experiência, e respirar novas impressões.

No decorrer da crônica, intercalo no texto, em negrito, as estrofes de um poema de um emigrante que saiu de Lisboa, meu pai,  em Novembro de 1950, com destino ao Brasil, cheio de sonhos e ilusões. 

Ele saiu de sua terra natal para trabalhar e constituir família, e quando saiu, não sabia quando voltaria para ver os pais e os irmãos novamente. Antes que pudesse voltar, morreu o pai e morreu a mãe, mas a vida é assim, é a vontade de Deus. 

Sexta-Feira 

Novamente chegamos a Lisboa, a cidade menina, moça e mulher, de Carlos do Carmo. 

Saímos de Guarulhos, em três casais, eu com a Irani, minha esposa, minha filha Adriana com o marido Rafael, e os pais do Rafael, Dona Ana e Seu Dorival. Apesar de uma pequena turbulência, não sentimos muito medo. 

Assim que chegamos em Lisboa, tomamos um cafezinho no aeroporto, e o que me chamou a atenção foi um adesivo no cesto de lixo que dizia: “Indiferenciado”, ou seja, que não há separação entre papel, plástico, metais e vidros. No decorrer da crônica eu cito diversas palavras que achei interessantes, não que sejam engraçadas, mas não são comuns no nosso uso no Brasil. 

Fomos para o local de “Levantamento de Viaturas”, e como o Rafael tinha alugado um carro grande, e ainda não foi suficiente, tivemos que trocar por uma “carrinha”, nome dado para as vans em Portugal. E saindo do aeroporto, vimos um ponto de Uber, que na placa dizia: “Tomada e Largada para passageiros”. 

Paramos em um posto da estrada, onde comemos bolinhos de bacalhau, e quando pedi para a garçonete, uma senhora , a pimenta, ela me trouxe um vidro com pimenta do reino, então eu disse que eu queria a pimenta liquida, não em pó. Daí a pouco ela voltou com um vidro de pimenta liquida, e disse: “pimenta é aquela que te dei primeiro, esta não é pimenta, é Piri Piri”. Fiz questão de ler a embalagem que dizia: “Sauce Piquante”. 

Na porta do banheiro feminino uma placa dizia: “Sanitários encerrados para limpeza”, e dentro do banheiro masculino um cartaz dizia: “ Aflitinho para beber um café? Pare para ver os menus a partir de € 2,95”. Já na saída do posto, um aviso sugestivo inspira os usuários: “Colibri, pouse aqui, Eureka!, Encontre o que necessitas, Acqua, um novo conceito de casa de banho, Wi-fi gratis, free wi-fi”. 

Chegamos no Porto, e em Vila de Gaia, no mercado beira rio, uma placa dizia: “Fartura!”, e como sou curioso, fui ver do que se tratava, e vi que era um tipo de churros. Comemos Bolinhos de Bacalhau, Bifanas e Bacalhau com natas, o vinho não pode faltar. 

Depois, degustação de vinho do porto, 5 tipos de vinho do porto. Fui também ao supermercado e comprei queijo de cabra, queijo de ovelha e chouriço preto de porco preto. Nos supermercados, os preços são bem mais baratos e justos, foi um dia muito produtivo. Dormimos no Porto

Ó rapaziada do meu tempo

Eu vos vou contar

Que é tão naturalmente

A mocidade é boa de passar

Quando eu tinha dez anos

Ia na escola estudar

Não me lembrava de nada

Só fazia ela brincar

Meus pais mandavam-me na escola

Para eu aprender a ler

Ia tirar ninhos de passarinhos

Era o que eu ia fazer

Quando eu tinha dezesseis anos

Começei a namorar

Pois o tempo que eu estive na terra

                                              Não me acanho de contar                                         

Sábado 

Levantei cedo e fui comprar pão, um pão delicioso, e como é o consumidor que se serve, falei para a operadora de caixa que eram 6 pães, ela não conferiu e registrou na confiança, dizendo o preço em euros e cêntimos, estranhei porque no Brasil usamos a palavra centavos. 

Comemos pão com queijo de cabra e de ovelha que tinha comprado no dia antes, tomamos café e fomos para Braga na casa de um amigo do seu Dorival, uma casa típica portuguesa num lugar tranquilo e sem barulho. 

Mesa farta, tomamos três tipos de vinho, sendo 2 vinhões, sempre na malga, e comemos salada de folhas, bacalhau com batatas, carne, e um arroz com cenoura delicioso. Entre as sobremesas, comi marmelada caseira com queijo fresco, ouvindo estórias que o seu Dorival e o seu Patrício contavam, as travessuras quando estavam estudando aos 10 anos para serem padres, as proezas do seu Patrício, que era fissurado por eletricidade, e não colocou fogo no prédio porque Deus não permitiu, e do seu Dorival, que levou um choque no poste do Seminário e caiu de uma altura de 4 metros, além do curto circuito no teatro da escola na apresentação de uma peça religiosa.

O seu Patrício construiu um rádio artesanal e eles ouviam os jogos de futebol e comentavam o resultado, deixando os padres curiosos para saber como eles sabiam, sendo que lá não tinha nem rádio e nem televisão. Só quando os padres viram as roupas penduradas no fio da antena do rádio é que descobriram o segredo. 

Logo depois, chegaram em casa os filhos e netos do seu Patrício e da dona Rosa, e a neta contou como foi sua viagem ao Brasil para conhecer Natal, e adorou! 

Voltamos para Guimarães e fomos conhecer o castelo de D. Afonso Henriques, um castelo medieval, do primeiro rei de Portugal, assim Guimarães é a cidade berço de Portugal. 

A noite jantamos alheiras com massa folhada no molho de mostarda e mel. 

Mas um dia eu pensei

Pois eu pensei a tempo

Eu estou muito novo

Para pensar em casamento

Ainda não tenho dezessete anos

Ainda tenho que ser militar

Ainda não sei  meu caminho

As voltas que eu vou dar

Vou aproveitar minha mocidade

Mas não pensar em casamento

Vou aldravar à vontade

Agora que é o meu tempo

Eu namorei tantas moças

Que de contar não tem jeito

Depois falavam que eu era aldravão

De eu as namorar todas a eito

Domingo 

Tomamos café no hotel e fomos para Santiago de Compostela, na região da Galiza no Noroeste da Espanha. Santiago é o suposto local do sepultamento do apóstolo bíblico São Tiago. 

Entrar na Espanha é muito curioso, é como se fizéssemos uma viagem no tempo, mas com todos os benefícios da vida moderna, roupas e principalmente o computador que carregamos para fazer consultas, pesquisas, ver a hora, e fotografar. 

No ano 34 DC, Tiago estava na região e não tinha celular. A região chamada de Gallaecia, atual Galicia, ou “finisterrae”, literalmente fim da terra. Hoje nossa atenção se volta para palavras que são espanholas, mas estão misturadas com português, que sabemos o significado, mas nos soam diferentes, vejam algumas: na fila do caixa: “espere su turno”; no cabeleireiro: “Peluqueria Hermitas”, na padaria: “pizzas al corte, bocadillos, empanados, panes, bolleria, cosas dulces”; no hotel: “deixe unha pegada na tua alma, non na terra”; no imóvel para alugar: “se alquila”; no restaurante: “casa de comidas”, no restaurante: “Gafa de Oro”; numa rua: “Ruela de Paio o Eremita”; na entrada de um estabelecimento comercial: “fala baixino”; na papelaria: “Papeleria”, na rua: “o caminho empeza agora”; no barbeiro: “fechado por vacacions, gracias”. Na praca: “pracina da Algalia de Arribal”, no escritório de advocacia: “A. Bermudez Coira Abogado”, numa igreja: “Iglesia Paroquial de San Miguel”; no escritório de arquitetura: “Mercedes Fraga” e Miguel Fernandez Arquitectos”; na campanha de vacinação: “Arrima o ombro”, numa casa: “ Se vende”; Na padaria: “Panaderia”; no consultório médico: “Dr.J.Suares-médico de ñinos”, no restaurante: “casa de xantares”. 

Visitamos a plaza do Obradoiro, onde fica o marco zero de todos os caminhos de Santiago, muitos peregrinos com suas mochilas, muitas igrejas, muitas catedrais. No jantar, fomos num restaurante comer paella, e como já sabíamos, o atendimento na Europa as vezes não é o ideal, na verdade como se diz é o jeitão deles mesmo, então um garçom e uma garçonete nos trataram com rispidez, e ríamos e comentávamos seus modos, e depois de pagarmos a conta, o Rafael viu um reclamando para o outro de não termos dado gorjeta. Foi uma cena cômica! Típica de crianças indolentes. Faço questão de ressaltar que tanto em Portugal como na Itália, fomos muito bem atendidos, que quando sabiam que éramos brasileiros, virava festa. 

Um dia quiz contar as namoradas

Mas para isso jeito não tinha

Pois eu tinha tantas

Que até me esquecia

Namorei moças do Balancho

No Pereiro e na Sanguinheira

No Cabo e no Mundo Fundeiro

Não esquecendo a Maxieira

Namorei algumas das Sarnadas

E no Robalo e Freixoeirinho

Nos Pregonçalves e Granja

No Pédeserra e Palheirinhos

No Valdamua e na Capela

Freixoeiro e Gargantada

Pracana Semeira e Pracana Fundeira

Contando também  a Quebrada

Segunda-Feira 

Fomos para Aveiro, a Veneza portuguesa, uma cidade com 35 quilômetros de canais com água do mar, com barcos chamados “Moliceiros”, que eram usados para transporte de mercadorias, hoje são usados para transporte de turistas. Aveiro produz sal e flor de sal, um lugar agradável. Na hora do almoço, num restaurante com vários guarda-sóis, o Rafael pediu para o garçom se poderia abrir um, e foi negado porque o garçom disse que não tinha sol, e na verdade tinha pouco sol, como não entendemos o raciocínio do garçom, fomos para outro restaurante, onde fomos bem atendidos e comemos polvo com batatas ao murro e bacalhau na nata. 

Depois do almoço, fomos para Fátima, cidade religiosa onde vão peregrinos do mundo todo. Assistimos à missa e visitamos os túmulos de Jacinta, Francisco e Lucia. Vimos também a imagem de N.S. Aparecida, com os dizeres:” Celebração do Tricentenário de Aparecida e do centenário de Fátima, afinal somos nações irmãs. 

Eu namorei algumas de Arganil

Vejo que não é brincadeira

Vinha Velha, Chão de Lopes

Cimo do Vale, Valdevacas Aldeia de e

Ja ia me esquecendo 

Da cidade de Frei João

Em Amêndoa Carvoeiro Cardigos

Tive grande satisfação

Nisto recebi uma carta

De meu irmão que estava no Brasil

Te mando a carta de chamada

Se para aqui quizeres vir

Eu li essa carta

Fiquei tempo a pensar

Tendo muitas saudades

Da minha família deixar

Terça-Feira 

Logo cedo, após o café, fomos para Óbidos, cidade medieval onde se encontra a melhor Ginginha de Portugal, em função do microclima. Fomos obrigados a tomar várias ginginhas durante a visita à cidade. Quando pedi uma coca cola de 350 ml, fiquei assustado com o preço: 5 euros, o que equivale a 31,90 reais. As ruas são estreitas e não permitem a entrada de carros, o estacionamento é do lado de fora das muralhas. Na porta o aviso diz: “Proibido a entrada, excepto veículos de tracção animal, recolha de resíduos e transporte de valores”. 

Almoçamos bacalhau a Lagareiro, leitão assado e arroz com polvo. No jantar alheiras assadas sobre o balcão, sendo as refeições acompanhadas de vinho. Óbidos já estava enfeitada para o natal. 

Quando nasce uma criança

Nasce também seu destino

Não adianta fazer atalhos

Tem que seguir o seu caminho

Dos meus documentos

Comecei arrumar

Logo no fim de seis meses

Recebi a ordem para embarcar

Despedi de todos

Não sei a sorte que vou ter

De-me vossas bençãos meus pais

Não sei quando vos tornarei a ver

No dia 20 de Novembro de 1950

No navio Serpa Pinto embarquei

Poucos minutos depois

Terra de Portugal não mais avistei

Quarta-Feira 

Tomamos café no hotel e fomos para Lisboa, fomos bater fotos na Praça do Comércio e no Arco do Triunfo, na rua Augusta. Tentei novamente fazer uma foto na mesma pose que meu pai fez em 1950, depois fomos num restaurante, onde comemos bacalhau, polvo e sardinha na brasa e batata com carne. 

Depois fomos para o aeroporto, na sala vip da Tap, e embarcamos para Roma. No voo, comemos polvo com batatas e pintada com legumes. Eu pedi polvo com batatas e a Irani pediu pintada com legumes, e ela me perguntou o que era pintada, e eu falei que achava que era algum tipo de peixe semelhante ao pintado brasileiro, mas ela depois de comer falou que achou estranho o sabor, parecia frango, mas o couro era grosso, então perguntamos para a Adriana o que era, e ela perguntou para a aeromoça, e vocês não imaginam nossa frustração. Ela que não come frango, ter comido e eu, porque me orgulhava de conhecer todos os nomes da galinha de angola, que são: galinha de angola, cocá, guiné, saqué e capote, agora conhecia um novo nome: pintada! 

Chegamos no hotel bem tarde e fomos dormir. 

Quando vinha no mar largo

Peixes e passarinhos avistei

Mas sempre com saudades

Da nossa terra que eu deixei

No dia 7 de dezembro de 1950

No Brasil foi minha chegada

Vamos beber a cerveja

Festejando a nossa atravessada

Beberamos a cerveja

Até falar mais não

Agora meus amigos vamos trabalhar

Vamos honrar a nossa nação

Em companhia deles

Eu fiquei a trabalhar

No fim de vinte meses

Eu fui me separar

Quinta-feira 

Levantamos cedo e fomos fazer o tour no ônibus vermelho, conhecendo os pontos turísticos importantes de Roma. Me assombrou a quantidade de prédios históricos, e constatei, como me tinham falado, que Roma é um museu a céu aberto, e tanto as pizzas e massas são diferentes do Brasil. 

Como estávamos na Europa, tínhamos a intenção de tomarmos os vinhos "nacionais", mas os mais em conta, os preços variavam de 12 a 15 euros, e nós como conhecíamos o jeitinho brasileiro, entramos em um Carrefour e compramos um vinho de 5 euros, o mesmo que bebíamos nos restaurantes. Só que não contávamos com a adversidade, faltava um saca-rolhas. Mas o Rafael voltou no Carrefour e pediu uma saca-rolhas emprestado, foi ótimo, a garrafa estava aberta, mas surgiu outro problema, a rolha não queira mais entrar na garrafa. Então o Rafael entrou novamente no Carrefour e pediu uma faca emprestada para afinar a rolha, eles não tinham faca e emprestaram uma tesoura, não deu certo, a rolha ficava torta na garrafa, então o seu Dorival entrou no Carrefour e comprou uma rolha moderna, com internet , gps e para-raio,  não lhe perguntei o preço da rolha, mas suspeito que custou mais caro que o vinho, resumindo: ganhei uma rolha chique!

Eu fui me estabelecer 

Com inteligência a trabalhar

Passando tantos sacrifícios

Para o dinheiro aumentar

Eu estive vinte e nove meses

Meus empregados eram minha companhia

A noite fechava as portas

De tão cansado não comia

Depois de quinze dias

Um passeio eu fui dar

Algumas casas de portugueses

Eu fui visitar

Na casa de um portugues

Uma filha dele avistei

Mas por eu não a conhecer

Com ela eu não falei

Sexta-feira

Saímos do hotel depois do café com destino ao que mais me despertava curiosidade, o Colosso, o Coliseu! Eu já estava surpreso com a cidade propriamente dita, mas o Coliseu me deixou de boca aberta, chamado de Colosso, mas Colosso é pouco! Não consigo imaginar que um gigante daquele tamanho, construído sem tecnologia, sem eletricidade, sem guindastes, sem motores à combustão, sem engenheiros formados em universidades, e sem computadores, tenha sido concluído em oito anos, e comparei com a linha do metro Linha 6 LARANJA, que passa na Av. Sumaré, sendo construída com toda tecnologia atual, maquinários modernos de perfuração, uso de concreto armado, conhecimentos de engenharia moderna, sendo uma obra que nunca poderá ser chamada de Colosso, e não ficará pronta em 6 anos, e digo mais, se os engenheiros que constroem o metro hoje fossem construir um Coliseu, quantos anos demorariam? 

Roma tem obras artísticas gigantescas, o senado, o palácio do Tibério César, realmente nunca imaginei conhecer o Coliseu, que depois da queda do império romano, dos terremotos que sofreu, do abandono que sofreu, da invasão de pessoas que passaram a morar la dentro, ainda é simplesmente deslumbrante. 

Fomos também conhecer as catacumbas romanas na via Ápia, com 20 metros de profundidade e 10 quilômetros de extensão. Também tentamos conhecer o Pantheon, e não conseguimos pelo excesso de pessoas em filas gigantescas. Comemos uma pizza quase em frente à Embaixada Brasileira e fomos para o hotel. 

Cheguei em minha casa

Uma carta lhe escrevi

Lhe consagrei tanto amor

Desde o momento que a vi

No fim de poucos dias

A resposta me foi dando

Aceitando o meu amor

Que eu lhe estava ofertando

No fim de poucos dias

Voltei a casa dos portugueses

Fui falar com o pai dela

Deixando meu casamento com firmeza

No fim de poucos dias

Marquei o dia do casamento

Já sou rapaz maduro

Já não vou mais perder tempo

Sábado

Levantamos cedo e fomos para a agência encontrar a guia que nos acompanharia no Vaticano, e com a guia evitamos várias filas la dentro. A segurança no Vaticano é impressionante, no menor país do mundo, com menos de 1.000 habitantes, a riqueza em obras de arte é inimaginável! são salões e salões com objetos de arte e antiguidades valiosíssimas. Num dos salões, alguns quadros me chamaram a atenção, uma tapeçaria de Jesus, que conforme você anda, os olhos Dele te acompanham, e na Capela Sistina, algumas cenas da bíblia tem um cachorro que foi eternizado por ser do pintor, isto mostra que um pintor fazendo uma obra sacra, demonstra seu senso de humor pintando seu próprio cachorro em várias cenas.

Na Basílica de São Pedro, um quadro mostra uma mulher pisando sobre o globo terrestre, e em seu dedão do pé um prego pisa sobre a Inglaterra, que era a pedra no sapato da igreja católica. 

Mas a mais impressionante foi a estátua esculpida por Michelângelo, a Pietá, que mostra a mãe de Jesus com Ele morto no colo. Maria está com um rosto jovem, como Michelângelo viu a própria mãe que perdeu quando ainda era criança, e Jesus com o corpo muito pequeno em proporção ao corpo de Maria, representando como a mãe vê o próprio filho, como uma criança. 

A noite fomos num restaurante com música ao vivo, a comida foi muito boa, mas os músicos eram muitos fracos comparando com a criatividade e simpatia dos músicos brasileiros. 

Em Roma, cidade turística, como no Vaticano, tudo tem seu preço, e é um preço caro, conservam uma etapa da vida do homem, suas conquistas, seu poder, primeiro do império romano e depois do poder da igreja católica, conservam para mostrar na vitrine, não somente pelo amor à arte, à cultura ou à história, e sim também por amor ao dinheiro. 

Fomos para o hotel dormir e nos prepararmos para o dia seguinte: Veneza! 

Esta é uma estória

Mas uma estória que é verdade

Já não quero mais namorar

Entrego para a mocidade

Primavera tem lindas flores

São lindas mas não são iguais

Primavera vai e volta

A mocidade não volta mais.

Domingo 

Tomamos café e fomos para a estação de trem, tudo muito confuso, quase todas as empresas estavam em greve, sorte que a nossa não estava. Pegamos um trem futurista que andou a 250 km por hora e fomos para Veneza. As estações no caminho são: Roma, Florença, Bolonha, Pádua e Veneza. 

Chegamos em Veneza, uma visão maluca, onde o trem andava e se via água do mar dos dois lados, descemos na estação e pegamos o Vaporeto para irmos até próximo do hotel. 

Deixamos as malas no hotel e fomos passear na cidade. Veneza tem 250 mil habitantes, nas ruas estreitas não tem carros, nem motos, nem bicicletas, só se anda a pé, e se quiser ir num lugar mais distante, tem que pegar um táxi barco. 

É fantasioso ver ao vivo aquilo que já tinha visto em filmes, parece irreal. Comemos a verdadeira pizza napoletana e tomamos vinho, a temperatura era de 5 graus, muito frio, e vida noturna agitada mesmo no inverno, depois fomos dormir e se preparar para o dia seguinte.

                                                               Segunda-Feira 

Depois do café da manhã, fomos andar pelas vielas da cidade, muitas lojinhas com lembranças, num lugar que sempre foi um grande centro comercial. Fomos a praça de São Marcos, com uma linda catedral e subimos na torre do campanário, com 98,6 metros de altura, com uma visão fantástica de toda ilha e a gente volta no tempo, parece que estamos no passado, pois do alto não se vê as vielas, somente as casas, linda visão! Quando subimos, o Rafael ficou num restaurante embaixo tomando uma coca cola de 330 ml garrafa de vidro e pagou a bagatela de 12 euros, que na nossa moeda seria 76,56 reais. Almoçamos espaguete com frutos do mar e calamares com batata frita. Mais tarde, voltamos para Roma, não de trem, primeiro um watertaxi, uma lancha até o aeroporto de Veneza, e depois de avião até Roma. 

Terça Feira 

Levantamos de madrugada e fomos para o aeroporto com destino a Portugal. Embarcamos antes do meio dia e começamos a volta para casa. Foi servido o almoço, massa com frango, sobremesa e vinho. Foram fechadas as janelas e começamos uma maratona de filmes, eu não estava com vontade de ler. Chegamos em Guarulhos às 20h, e uma hora depois estava no Uber com destino à minha casa. 

Chegando em casa lembrei de uma frase na parede do hotel de Santiago de Compostela: “DEIXE UNHA PEGADA NA TUA ALMA, NON NA TERRA”, ou seja em nossa caminhada na terra, devemos deixar marcas na alma, não no chão. 

 

 


terça-feira, 23 de abril de 2024

Kimono

Kimono?, mas isso é nome de cachorro?, minha filha disse que sim, que fazia tempo que falava que seu cachorro se chamaria Kimono, e como ganhou um chihuahua, já batizou com este nome.

Ela como veterinária disse que existem nomes bem exóticos de animais, e acredito, porque estou lendo um livro que a tartaruga de estimação do personagem chama-se Rodolfo.

Os mais velhos lembram bem do Rin Tin Tin, um pastor alemão que fez a alegria de muitas crianças, e também da Lassie, que nasceu fêmea pelo romancista Eric Knight, mas em Hollywood sempre foi interpretada por um macho, se tornando o animal mais popular das grandes telas, desbancando o porquinho Baby e a coruja Hedwig de Harry Potter.

Quem não conhece o Scooby-Doo, um dogue-alemão muito grande que tinha medo de fantasmas, e Bob Pai e Bob Filho que são da raça Daschund, conhecidos como "salsicha", e eu lembro com saudades do seriado "Ben, o urso amigo" e do seriado "Maya o elefante", mas apesar desses nomes não serem brasileiros, não deixam de ser exóticos.

O irmão do namorado da minha filha queria comprar um labrador amarelo e colocar o nome de mussarela, mas mudou de ideia e comprou um West Highland White Terrier, então como ele é branquinho, colocou o nome de" Brie" que é um queijo bem branquinho também, e sua mãe carinhosamente começou a chama-lo de "brie", "brioco", "brioquinho", e todos riam e não falavam nada para ela, levavam na brincadeira.. Quando alguém mandou ela olhar no dicionário, ficou encabulada quando viu que brioco era sinônimo de fiófó, mas não importa, todos riram, e é assim mesmo, os cães são os maiores amigos do homem, trazem muita alegria, muito amor, e muita risada.

sábado, 20 de abril de 2024

Severino

 Nasceu no Pernambuco e foi batizado por mamãe com o nome de "Severino".

Um dia andando perto do Parque da Água Branca, ouviu um voz dizendo:-"Faz xixi Severino", virou assustado e viu um moça com dois metros de altura e olhos azuis, segurando pela coleira um lindo cachorro branco.

Ele chegou perto e perguntou:- você me chamou?

Ela disse:- eu não, estou falando com meu cachorro Severino, por acaso você se chama Severino?

Ele respondeu:- sim! desde que nasci e mamãe me batizou.

E quando ele terminou de nos contar essa estória, disse que ia na rua Santa Ifigênia comprar uns trecos, então eu falei para ele tomar cuidado, porque lá tem muitos nóias.

Ele me respondeu que não tinha problema, e se encontrasse algum nóia ia dizer:-você é nóia?, eu não tenho medo, fique sabendo que eu também sou nóia!