sábado, 23 de outubro de 2021

23 de Outubro

Gente! hoje é meu aniversário e completo 66 anos.

66 é meia meia, um belo número, nem imagino  que bicho seria no jogo do bicho, mas minha geração que curtiu um fusquinha sabe que o meia meia é um número emblemático e até hoje é um sonho para aficionados e colecionadores.

Tive vários fusquinhas, mas o que tive muito mais foram as havaianas. Acredito que ganhei o primeiro par com quatro ou cinco anos e foi comprado em Jales, depois que minha mãe viu um vizinho japonês usando e achou muito legal.

Nunca fiquei sem havaianas, fui crescendo, estudando, trabalhando, me casei e nunca deixei de usar as havaianas.  As havaianas me acompanham nos meus momentos mais íntimos, até no banho quando estou totalmente nu estou usando as havaianas.

Tive várias cores e ultimamente até modelos mais arrojados, mas sempre havaianas.  Nunca consertei as tiras com arame como muita gente faz, acho que é uma coisa tão barata que quando solta as tiras é melhor comprar um par novo.

Na festa do meu casamento não demos havaianas para os convidados como muita gente faz porque não fizemos festa, mas na minha lua de mel junto da noiva levei as havaianas.

Quando eu for embora deste mundo não faço questão de roupas especiais, mas quero levar minhas havaianas, mas deixo claro que não tenho pressa, tomara que demore mais 66 anos.

Na minha lápide podem gravar: "Aqui jaz José com suas havaianas, não por serem as sandálias da humildade, mas por serem as sandálias da utilidade".

Quem ler esta crônica não pode falar que nunca  teve um par de havaianas!, ninguém!. Aliás, quem nunca apanhou da mãe com uma havaiana?

Tive vários fusquinhas, mas havaianas tive muitas, muitas mais, e isto não é ostentação, porque havaianas é igual nariz: todo mundo tem!

domingo, 3 de outubro de 2021

O mundo é dos vivos

Assistindo ao Jornal Nacional vi um caso de um homem que levando sua mãe à agencia bancária para fazer prova de vida, para fins previdenciários, tropeçou na calçada e batendo a cabeça na guia morreu no mesmo instante. Ironicamente tentando provar a vida de sua mãe, não conseguiu preservar a sua própria vida.

Fui dormir com isso na cabeça, e em sonho me preocupei em fazer minha própria prova de vida, sendo que num ano que esqueci de fazer deixei de receber o benefício, e só fui receber depois de regularizar a situação junto a previdência.

Levantei cedo e com isso na cabeça peguei o celular e vi a chegada de um e-mail da prefeitura, e logo percebi que era uma brincadeira que fazíamos nos tempos da juventude, alguém me mandou este e-mail se passando pela prefeitura e dizendo que eu tinha passado da idade que não mais traria vantagens à sociedade e aos amigos, só acarretando prejuízo as entidades assistenciais e desagrado aos que me rodeiam, portanto eu deveria comparecer ao crematório municipal diante do forno número 5 para que fosse incinerado.

Tudo estava muito funesto nas últimas horas, só se falava em morte, Deus me livre!

Antes de entrar na agência bancária, passei na banca de jornal para comprar uma revista de palavras cruzadas, e o jornaleiro que não conheço exclamou:- Tudo bem? quem é vivo sempre aparece!

Olhei assustado para aquele homem que não conhecia e o achei muito parecido com um colega de trabalho que tinha morrido há uns dez anos, chamado Alfredo, acho que até dilatei os olhos assustado, e fiquei mudo sem responder até que chegou uma cliente e pediu a revista Caras, exclamando que só pagaria a conta na semana que vem e perguntou se estava tudo bem frisando o nome de "seu Alfredo".

Muito estranho tudo isso, lembrei de um filme que assisti quando rapaz que um personagem descia de avião numa ilha e reconheceu diversas pessoas que já tinha morrido, o que o levou a concluir que ele estava morto também.

Entrei na agência bancária e fui pedir informações a um funcionário que manipulava o caixa eletrônico, disse bom dia sendo que ele simplesmente não respondeu me ignorando totalmente, esperei até que ele terminasse seu trabalho e virasse para sair quando ele se assustou com minha presença mostrando que só tinha me percebido aquela hora.  Muito estranho, resolvi não perguntar nada, fui no caixa e realizei a prova de vida e sai da agência.

Atravessando a rua um motorista incauto fez a curva cantando os pneus me assustando e gritando:-cuidado tio! quer morrer?, e eu ignorei mas minha vontade era dizer para ele que eu não queria morrer, mas pelo jeito ele queria era me matar.

Andando pela calçada cruzei com um rapaz que distribuía panfletos que eu imaginava ser de algum empreendimento imobiliário, peguei um na mão somente para ajuda-lo em seu serviço e me assustei com o conteúdo que era de vendas de túmulos e jazigos.

Praguejei com a quantidade de coincidências infelizes e um senhor que andava perto veio puxar conversa sobre os panfletos, então contei para ele tudo que tinha ocorrido desde o Jornal Nacional, e ele me disse para não me preocupar, porque infelizmente pessoas tropeçam todos os dias e as vezes com consequências graves, sonhar com um problema também é normal porque ficamos remoendo os problemas durante o sono, sobre o e-mail da prefeitura é normal nós humanos fazermos brincadeiras para nos divertir, quanto ao senhor Alfredo posso dizer que o conheço há anos e ele sempre teve a mesma cara, já foi mais agradável verdade, o rapaz do banco é o Flávio, que faz parte dos contratados com deficiência, ele é surdo, por isso não te ouviu, motoristas incautos tem em todas as ruas de São Paulo, às vezes alcoolizados ou drogados, e finalmente com relação ao rapaz dos panfletos, entenda que é o trabalho dele, igual a todos que vendem produtos, e hoje te afirmo que não ligo mais para essas coisas, mas quando eu era vivo também tinha muita rejeição!