domingo, 28 de junho de 2020

O Morador de Rua

Aparentava mais ou menos 50 anos, e morava nas ruas há pelo menos 5 anos; contou que veio para São Paulo à procura de trabalho e quando desembarcou na rodoviária foi assaltado perdendo seus documentos e as economias que trazia.
Dormia protegido por papelões próximo a loja e  só nos importunou porque ali mesmo urinava e deixava o lugar fedendo.
Com nossa implicância passou para o outro lado da rua, e como era boa gente, fez amizade com todo mundo.  Conversava com um e com outro, mas o que nos deixava com um pé atrás é que quando levantava cedo conversava consigo mesmo, e muito bravo, gesticulando e praguejando, talvez tivesse algum distúrbio, o que um colega nos disse ser consequência da solidão e insegurança de morar nas ruas.
Disse que sua família não sabia que morava nas ruas e um dia expressou sua vontade de voltar para Paraíba, seu estado natal.  Os colegas se reuniram e fizeram uma vaquinha para comprar a passagem e para as despesas de estrada, e quando um colega se propôs comprar a passagem para quinta-feira, ele pediu que esperasse até segunda-feira porque precisava arrumar suas coisas de viagem.
Achei engraçado e falei para o colega avisar ele para deixar os papelões na rua mesmo, afinal era só o que tinha além umas mudas de roupa, e andava sempre limpo inclusive ia na rodoviária e pagava para tomar banho.
Entregaram-lhe a passagem e o dinheiro para a viagem, e ele foi embora do local largando só os papelões. Dias depois duas pessoas vieram falar que tinham-no visto andando pelo bairro, que tinha sido assaltado e levaram a passagem e o dinheiro.
Ai fica o mistério, porque essa vida de morador de rua ainda é melhor que sua vida anterior? Será que comer restos de comida que as pessoas dão e dormir no relento ainda vale a pena?, onde está a dignidade do ser humano, ou até nisso ele foi roubado?